Irmãos levados para abrigo após serem humilhados ao venderem empanadas voltam para casa e celebram o Natal

Em processo que corre em segredo de Justiça, Conselho Tutelar alegou condições insalubres na casa das crianças e trabalho infantil. Processo ainda aguarda sentença definitiva, mas crianças já estão em casa. Leandro, de apenas 14 anos, passou por um episódio de humilhação enquanto realizava vendas em Santos, SP
Reprodução/Redes Sociais
Os irmãos argentinos que foram humilhados enquanto vendiam doces e empanadas em Santos, no litoral de São Paulo, e que foram levados para um abrigo pelo Conselho Tutelar, retornaram para a casa dos pais após mais de um mês e puderam celebrar o Natal com os familiares. Em entrevista ao g1 neste sábado (25), o advogado da família explicou que as crianças não vão mais trabalhar.
Os irmãos ficaram conhecidos na internet após o relato de uma situação que sofreram repercutir nas redes sociais. O caso aconteceu em 24 de setembro, quando dois irmãos, com 14 e 15 anos na época, vendiam doces e empanadas na Rua Tolentino Filgueiras, no bairro Gonzaga. Um grupo de jovens em um bar jogou os doces em um dos irmãos e derrubou as empanadas que ele carregava no chão.
Duas jovens decidiram pagar pelas empanadas danificadas, e pediram ajuda nas redes sociais para arrecadar mais dinheiro para a família deles. O relato viralizou, e logo uma arrecadação online aberta em nome dos meninos arrecadou mais de R$ 155 mil para que a família pudesse abrir o próprio negócio. Contudo, o caso chamou a atenção de organizações voltadas aos direitos de crianças e adolescentes, pois a atividade dos meninos configuraria trabalho infantil, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Essas organizações protocolaram diversas denúncias ao Conselho Tutelar de Praia Grande, no litoral de São Paulo, onde a família mora. De acordo com o órgão, por conta da situação insalubre em que os filhos viviam e do trabalho infantil, a Justiça determinou que quatro dos cinco irmãos, de 4, 8, 14 e 16 anos, fossem encaminhados a um abrigo municipal sob responsabilidade do Conselho Tutelar, no dia 12 de novembro.
Contudo, após mais de 30 dias, as crianças e adolescentes puderam voltar para casa, no dia 18. Segundo o advogado da família, João Paulo Sales, a medida de levar as crianças para o abrigo deveria ser a última a ser tomada.
”A gente entende que o trabalho infanto-juvenil é totalmente proibido, mas a medida de se levar para um abrigo é a última a ser tomada. Não podemos deixar de levar em consideração que a Constituição também protege a família. Houve uma reconsideração de que o melhor lugar para as crianças e adolescentes estarem é, justamente, com os pais deles”, esclarece.
Arrecadação na internet juntou R$ 155 mil para ajudar os irmãos em Praia Grande, SP
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Segundo o advogado, os pais não chegaram a perder a guarda dos filhos, eles apenas tiveram o convívio suspenso nesse período. Da mesma forma, a volta das crianças para casa ainda não é definitiva. O processo continua, em segredo de Justiça, e está sendo aguardada uma sentença, sem data para sair, para confirmar a volta dos jovens para casa e encerrar o processo.
Sales esclarece que o dinheiro arrecadado e doado às crianças só foi liberado para a família no início de dezembro, e que a família não permitirá que as crianças continuem trabalhando. Os pais planejam abrir uma lanchonete para trabalharem e conseguirem sustentar a família.
Para preservar a imagem das crianças, os pais não estão falando sobre o caso publicamente, já que o processo segue em segredo de Justiça. Porém, segundo informado pelo advogado da família, as crianças ficaram felizes com a volta para casa.
“Eu fui na casa deles, eles estão bem, felizes, falaram que é melhor estar em casa do que no abrigo. Nesse momento, é importante respeitar a privacidade da família em geral, e que as pessoas entendam a situação. Eles passaram mais de 30 dias longe dos pais, então, querem aproveitar esse momento juntos”, conclui.
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