Menino de 12 anos abre oficina de brinquedos na pandemia e passa a consertar eletrodomésticos da vizinhança no interior de SP

Kayllon, de 12 anos, começou consertando brinquedos de graça em Apiaí por gostar de mexer com ferramentas, mas logo passou a ser procurado para consertos mais elaborados. Adolescente de 12 anos, morador de Apiaí, SP, conserta desde brinquedos e até notebooks
Arquivo Pessoal/Themis Fernandes Santana Looze
Um adolescente de 12 anos surpreendeu a família ao abrir o próprio negócio, a ‘Oficina de Brinquedos do Kayllon’. Ele começou consertando brinquedos de amigos de graça, com reparos mais difíceis por R$ 1, mas, em um ano, evoluiu para o conserto de secadores, batedeiras, liquidificadores e até um notebook.
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De acordo com a mãe, a autônoma Themis Fernandes Santana Looze, de 30 anos, a família mora em Apiaí, no interior de São Paulo. No início da pandemia de CovId-19 no país, em março de 2020, Kayllon Denilson Fernandes Looze não encontrava muitas atividades para fazer em casa. Sem computador ou outras opções de diversão, ele decidiu consertar brinquedos de amigos da vizinhança.
“Ele estava sem nada para fazer, e falou que ia colocar uma plaquinha na porta de casa avisando que arrumava brinquedos de graça. Se fosse muito difícil, ele cobraria R$ 1. Eu aconselhei a não fazer, porque fiquei com medo de algo dar errado. Mas, ele disse que sabia fazer direito, e que ia conseguir, então deixei”, relata Themis.
Em pouco tempo, a notícia se espalhou pela vizinhança, e várias crianças pediam ajuda para consertar seus brinquedos. Conforme explica Themis, o marido dela, pai de Kayllon e de uma menina de 3 anos, trabalha em uma marmoraria, mas possui uma caixa de ferramentas e sempre gostou de trabalhar consertando utensílios e até carros, já que tinha o sonho de ser mecânico. Contudo, ele foi impedido de seguir na profissão devido à falta de condições para custear a formação.
Mesmo assim, em casa, ele consertava diversas coisas levadas por vizinhos, sempre sendo admirado e observado pelo filho, que desde pequeno dizia que um dia teria suas próprias ferramentas para realizar consertos. Com os devidos cuidados, os pais sempre apoiaram e acompanharam os ‘serviços’ do menino.
Algum tempo depois de iniciar a oficina de brinquedos, a tia de Kayllon perguntou se ele saberia consertar o secador dela, que havia parado de funcionar. O adolescente não só aceitou, como venceu o desafio e, assistido pelos pais, realizou o conserto. Desde então, a vizinhança passou a levar liquidificadores, batedeiras e outros aparelhos para que ele consertasse, recebendo pequenas gorjetas.
Adolescente encara desafios consertando eletrodomésticos da vizinhança em Apiaí, SP
Arquivo Pessoal/Themis Fernandes Santana Looze
Kayllon chegou a comprar um notebook totalmente quebrado em um bazar, por R$ 10, e conseguiu consertá-lo, vendendo depois por uma quantia bem mais alta. Porém, mesmo com a habilidade do filho, Themis sempre acompanha e orienta os consertos.
“Ninguém segura ele. Ele analisa, fala que se for muito difícil para ele, não vai fazer. Ele é muito consciente. Ele continua arrumando os brinquedos de graça, porque gosta de fazer, mas algumas pessoas pagam gorjetas pelos consertos de aparelhos”, explica.
Apesar dos cuidados, a família se diz orgulhosa pelo desenvolvimento, independência e inteligência do adolescente. O dinheiro conquistado é gasto por ele mesmo, para comprar coisas que deseje. Porém, quando ele vê que não possui condições de consertar, orienta os clientes a procurarem profissionais e peças, indicados por ele mesmo.
“Me sinto muito orgulhosa pelo meu filho. Ele fica muito empolgado também, isso anima ele. Acho que ele vai seguir nessa área. O pai dele foi do mesmo jeito, mas até hoje não teve condições. Mas o Kayllon vai ter, e ele gosta muito de mexer com essas coisas, de fazer o trabalho dele”, conclui.
Oficina de brinquedos
Kayllon ganhou uma maleta de ferramentas, além de uma placa para o pequeno empreendimento
Arquivo Pessoal/Themis Fernandes Santana Looze
Na época do início dos consertos, em 2020, a história de Kayllon foi compartilhada em páginas do Facebook de pessoas da região. O caso ganhou repercussão e chegou até o empresário Júnior Fischer, de 38 anos, que decidiu surpreender o menino.
“Eu me identifiquei, nós dois somos autodidatas. Acho que, às vezes, a pessoa tem um grande talento que pode dar um futuro para ela, mas só falta um incentivo”, conta.
Fischer produziu uma identidade visual para a “pequena empresa” do menino, com o nome Oficina de Brinquedos do Kayllon, e doou uma maleta de ferramentas para ele, além de brinquedos. A animação com o presente foi tanta que Kayllon decidiu adotar o nome criado pelo empresário, que trabalha com identidade visual e publicidade.
“Liguei para alguns amigos, que ajudaram com doações. Para a gente é tão pouco, mas para ele [Kayllon] fez grande diferença. Ele me disse que, depois que ganhou as ferramentas, começou a consertar outras coisas. O que me comoveu foi ver ele fazendo de graça, sem esperar nada em troca”, relata.
Agora, Kayllon realiza os consertos com as próprias ferramentas, e se aprimora cada dia mais, encarando o tempo de “trabalho” como uma verdadeira diversão neste hobby que descobriu na pandemia.
Brincadeira que começou na pandemia rendeu muitos elogios e serviços a Kayllon
Arquivo Pessoal/Themis Fernandes Santana Looze
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