Litoral

Com 32 mil desaparecidos em SP, famílias relatam ‘luto sem fim’ e esperança por parentes nunca mais vistos


Levantamento feito pelo g1 aponta que, dos registros feitos nos últimos dez anos, 13% das pessoas desaparecidas ainda não foram encontradas pelas famílias e autoridades. Denise da Silva Conceição, com 5 anos na época, desapareceu enquanto a família passava o dia em um parque de diversões, em 1986
Arquivo Pessoal
“Um segundo de distração e ela sumiu. Nunca mais encontramos ela”. O desabafo é da costureira Lisete da Silva Conceição, de 63 anos, que já soma 35 anos procurando pela filha Denise, que desapareceu em São Vicente, no litoral de São Paulo, aos 5 anos, em agosto de 1986.
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Lisete faz parte de uma multidão de pessoas que vive sem respostas, aguardando pelo retorno ou por informações que levem ao paradeiro de parentes sumidos. Um levantamento feito pelo g1 mostra que cerca de 13% dos registros de desaparecimentos feitos nos últimos dez anos ainda não foram solucionados.
A costureira segue procurando pela filha, que, se estiver viva, tem 40 anos atualmente. “No meu coração, eu tenho certeza que ela está viva, ainda na mesma região, sendo cuidada por outra família”, disse a costureira. Mesmo assim, a incerteza e a saudade ainda batem. “Eu queria saber se ela está viva ou morta. Isso que eu quero saber. É um luto e uma esperança sem fim, ao mesmo tempo”.
Apesar de crianças não desaparecerem com frequência, Denise está entre as 2,5 mil crianças que sumiram nos últimos dez anos (veja mais dados abaixo).
Lisete ainda distribui panfletos sobre o desaparecimento da filha, ocorrido há 35 anos
Arquivo Pessoal
“Eu só queria ter plena certeza sobre o que aconteceu com meu pai”, diz Lívia Abreu, que procura pelo pai há nove meses. David Soares de Abreu, de 67 anos, foi visto pela última vez em março do ano passado. O idoso é uma das cerca de 32,4 mil pessoas que constam atualmente como desaparecidas em todo o estado paulista (veja mais dados abaixo). Ele foi visto pela última vez em Mongaguá, e chegou a vender sua casa por um preço muito abaixo do valor de mercado antes do sumiço.
A filha, assim como o restante da família, aguarda a resolução de uma série de burocracias para que o sigilo das contas bancárias dele seja quebrado pela Polícia Civil. Só assim a família teria certeza se o idoso decidiu se afastar ou se, por acaso, algo mais sério aconteceu com ele.
David Soares de Abreu, de 67 anos, está desaparecido há quase dois meses
Arquivo Pessoal/Livia Abreu
Lívia confessa que os parentes de David já não têm mais esperanças de encontrá-lo com vida. “É bem difícil, mas já estamos meio que calejados com essa demora. A família já não tem esperança nenhuma de que ele vá ser encontrado, ou de que quem fez isso vá pagar na Justiça”, desabafa.
Desaparecidos em SP
Conforme levantamento de dados realizado pelo g1 junto ao Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil de São Paulo, nos últimos dez anos, foram registradas 239 mil notificações de desaparecimento em todo o Estado de São Paulo.
Neste período, 206 mil pessoas foram encontradas vivas, seja pelas autoridades ou pelas famílias, representando 86% do total (veja gráfico abaixo). No entanto, desde 2011, 867 pessoas foram encontradas já falecidas.
Atualmente, 32,4 mil pessoas são consideradas desaparecidas no estado. Elas são procuradas pela Polícia Civil e por outros órgãos públicos. Esse número não contabiliza as pessoas procuradas pela Justiça.
Ainda conforme o levantamento, pessoas entre 18 e 29 anos de idade tendem a desaparecer com mais frequência (veja segundo gráfico abaixo). Homens adultos são os mais registrados entre os sumiços.
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