Jovem inseguro com sua aparência se emociona ao ter rosto grafitado em SP: ‘Nunca imaginei’

Modelo Rafael Sales, de 23 anos, ficou impressionado ao ver uma foto dele grafitada por um artista urbano no muro de uma comunidade de São Paulo. Rafael foi fotografado por Andrey Haag, e imagem inspirou grafite em muro de São Paulo, feito pelo artista urbano Difavela
Andrey Haag/Difavela
O modelo independente Rafael Sales, de 23 anos, ficou emocionado ao ver que uma foto dele foi grafitada no muro de uma comunidade de São Paulo. O jovem, que já se sentiu muito inseguro com a aparência, acabou inspirando um artista urbano, e agora tem seu rosto ligado a um símbolo de representatividade e resistência.
Rafael é de Santos, no litoral de São Paulo. Ao g1, ele contou que, desde pequeno, se sentia inseguro, por conta de comentários que ouvia sobre sua aparência, principalmente na escola. “A insegurança me atrapalhou muito na vida. Já adulto, meus amigos me incentivaram a posar como modelo, por conta da minha altura e minha forma física. Meu primeiro trabalho foi posar para uma revista”, lembra.
De acordo com Rafael, o resultado das primeiras fotos o fez se sentir de forma diferente, mais seguro consigo. “Eu precisava trabalhar essa autoestima, acreditar mais em mim, não só para questões de trabalho, mas por uma questão pessoal mesmo. Se não fosse o incentivo dos meus amigos, eu jamais teria tirado essas fotos ou me arriscado na carreira de modelo independente”, diz.
Em um de seus ensaios como modelo, Rafael foi fotografado por um amigo, o fotógrafo e artista visual Andrey Haag, no bairro Saboó, onde mora. Para sua surpresa, o artista urbano Difavela viu uma das fotografias e usou essa imagem como referência para grafitar um muro na Zona Norte de São Paulo.
“Foi uma surpresa, nunca imaginei que meu rosto seria grafitado em São Paulo. Eu conheci o Difavela quando o Andrey me chamou falando que ele o tinha marcado nos stories do Instagram. Quando eu vi, fiquei chocado, foi uma explosão de alegria, até porque eu jamais pensei que meu rosto estaria em um muro”.
Modelo independente ficou emocionado ao ver que uma foto dele foi grafitada em muro em SP
Augusto Pakko
Rafael soube do grafite enquanto estava trabalhando, e ver o rosto ilustrado para toda uma comunidade ver fez com que ele acreditasse ainda mais em si, e almejasse outras oportunidades.
“Já tive a honra de estar em um projeto artístico do meu amigo, que foi exposto no Sesc de Santos. Quero futuramente estar nas passarelas, outdoor, revistas e museus. A arte está me transformando em uma pessoa melhor, e quero poder compartilhar minha história com as pessoas, ser referência, ainda mais sendo uma pessoa preta, de periferia. Hoje, consigo ser totalmente eu, livre, sem me importar com a opinião dos outros. É gratificante”, finaliza.
Fotografia
O fotógrafo e artista visual Andrey Haag é o autor da foto de Rafael reproduzida no grafite. Ele conta que a imagem foi feita durante o making off de um videoclipe. “Eu já tinha fotografado o Rafael antes, e dessa vez fiz essa fotografia no processo de gravação. Logo em seguida, eu a postei, isso faz cerca de um ano. Este ano, eu conheci o Difavela em um projeto do Instituto Procomum, em que ambos participamos, e passamos a nos seguir, porque sempre um admirou o trabalho do outro”, afirma.
Depois disso, Andrey repostou a foto do Rafael, e Difavela a viu. Dias depois, o fotógrafo acordou e, ao entrar no Instagram, estava marcado em uma publicação do artista de rua. Difavela segurava a foto de Rafael, e havia feio um esboço da imagem em um muro. “Eu fiquei eufórico na hora, e mandei para o Rafael. Eu sempre quis impactar pessoas com a minha arte, e na semana que isso aconteceu, eu estava muito triste, mas depois disso, ganhei um gás, por saber que meu trampo inspirou outro artista, retratando um jovem da periferia”, destaca.
Rafael conta que, antes de ser modelo independente, se sentia muito seguro com a aparência
Andrey Haag
O grafite
O artista urbano Ederson Pereira, de 34 anos, o Difavela, conheceu o fotógrafo Andrey Haang e o seguiu nas redes sociais. “Quando ele postou a foto do Rafael, me identifiquei na hora com aquela imagem, um homem negro periférico retratado de forma linda por outro artista periférico, isso tudo me deixou encantado”, afirma.
De acordo com Difavela, seu trabalho no grafite e na xilogravura é baseado em fotografias de pessoas negras, em seu cotidiano e na natureza, usando elementos como pássaros e plantas.
“Quando me identifiquei com aquela foto na rede social, salvei para utilizar em um futuro trabalho. Semanas depois, fui convidado pelo Instituto Resgatando Vidas para realizar um trabalho na fachada do novo projeto deles, no Peri Alto, na Zona Norte, próximo ao meu bairro, Brasilândia. O único pedido do cliente era que fosse usada como tema a quebrada do Peri Alto, então, me veio a ideia de usar a foto do Rafael, feita pelo Andrey, como personagem principal”, conta.
Para Difavela, é muito importante que a população alvo de sua arte se identifique e se reconheça culturalmente. “Registrar na memória coletiva a cultura periférica como uma cultura existente e resistente, e mostrar que, na quebrada, existe muita arte. Esse é o impacto que quero gerar para a sociedade”, finaliza.
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