Litoral

Ex-morador de abrigo vira professor de tênis de mesa em centro comunitário que o tirou das ruas em SP


Jovem descobriu a paixão pelo esporte em um Centro de Atividades Educacionais e Comunitárias de Guarujá (SP). Ex-morador de abrigo virou professor de tênis de mesa em centro comunitário que o tirou das ruas em Guarujá, SP
Divulgação/Prefeitura de Guarujá
Juramir Valentim, de 29 anos, já foi morador de um abrigo para menores de idade, e hoje ensina tênis de mesa a crianças e jovens em vulnerabilidade social no centro de atividades pelo qual passou há 22 anos. Ao g1, ele contou que, há quatro anos, decidiu ajudar crianças da periferia de Guarujá, no litoral de São Paulo, a terem novas oportunidades.
Aos 2 anos, Juramir e o irmão perderam o pai. Eles foram morar em Guarujá após o ocorrido, junto com a mãe, mas ela também morreu pouco tempo depois. “Eu perdi meus pais cedo. Meus tios não quiseram ficar com a gente, e nos deixaram na porta do Conselho Tutelar”. Assim, as duas crianças foram encaminhadas ao Alma – Associação de Amigos do Lar do Menor Assistido, e depois, aos 4 anos de Juramir, foram para um abrigo para menores de idade, onde ficaram até completarem 18 anos.
“O abrigo não é nada fácil. Eu e meu irmão ficamos unidos como somos até hoje”. Ele conta que os períodos mais difíceis eram aos fins de semana e feriados, como o Natal, em que as crianças iam visitar algum familiar, ou até mesmo recebiam visitas, e Juramir e o irmão ficavam sozinhos. “Triste saber que você tem alguém, e essa pessoa não se importa com você”.
O jovem revela que já sofreu discriminação, principalmente na escola, por vir de um abrigo. “Vários me xingavam e diziam que, um dia, eu iria parar na Febem, só porque era órfão”.
Com 7 anos, Juramir conheceu o Centro de Atividades Educacionais e Comunitárias (Caec) Isabel Ortega de Souza. “Havia diversos cursos lá. Eu conheci a natação, que foi o primeiro esporte pelo qual me interessei”.
Ele conta que o Caec o ajudou muito a se sentir acolhido. “Já tive de tudo para estar no caminho errado. Só que sempre tive pessoas boas me aconselhando. Já falaram até que eu não ia ser ninguém, que eu me tornaria um marginal”.
Tênis de mesa
Ex-morador de abrigo virou professor de tênis de mesa em centro comunitário que o tirou das ruas em Guarujá, SP
Divulgação/Prefeitura de Guarujá
Juramir conheceu o tênis de mesa na escola. Seu professor, Danilo Pastoriza, já atuou como árbitro internacional em competições da modalidade. “Minha relação com meu antigo professor é boa até hoje. Ele me dá conselhos e puxões de orelha que são para a vida toda”.
Segundo ele, o tênis de mesa faz bem à coordenação motora e à saúde muscular. “É um jogo intenso e estimula, principalmente, a coordenação entre os olhos e as mãos”. Juramir também aponta que o esporte queima calorias e “deixa o cérebro em forma”, além de ser uma terapia para distúrbios mentais e ajudar na disciplina para os jovens.
Projeto
Ex-morador de abrigo virou professor de tênis de mesa em centro comunitário que o tirou das ruas em Guarujá, SP
Divulgação/Prefeitura de Guarujá
A ideia surgiu alguns anos depois de Juramir parar de frequentar o Caec. Ele decidiu juntar sua paixão pelo esporte ao trabalho social. “Eu via que muitas crianças saíam da escola e iam para a rua. A ideia é que eles, depois da escola, sigam direto para as aulas, assim, não caem em escolhas erradas. Quero dar oportunidade, assim como eu tive”.
Atualmente, o projeto atende 60 crianças, de segunda a sexta-feira, das 10h às 12h e das 12h30 às 16h. “Às vezes, há um vazio no coração, mas quando vou para o Caec, só de ver as crianças felizes, tudo muda”, diz.
“Tem um menino que está desde o início do projeto, e vem crescendo a cada dia, com muita força de vontade. Ele sempre vai treinar, seja na chuva ou no sol, ele está lá. Creio que ele tenha se identificado comigo. Meu instrutor sempre me falou que quem quer vai atrás”. Ele ainda conta que, até novembro do ano passado, atendia crianças que moravam no mesmo abrigo em que ele viveu a vida toda, mas, devido a divergências, o vínculo foi encerrado.
Juramir trabalha desde os 8 anos, vendendo chup-chup, pipas, balas e guardando carros. “Já fui garçom e ‘bandejeiro’ na praia. Nunca precisei pegar nada de ninguém. Trabalho com a minha honestidade”, conta.
Agora, o jovem se divide entre trabalhar como motorista de aplicativo, cuidar dos três filhos e o voluntariado. “Só de ver uma criança feliz, dando um sorriso e suando a camisa me incentiva a continuar com esse trabalho cada vez mais. Cada criança tirada da rua é uma alma salva”, conclui.
VÍDEOS: Mais assistidos do g1 nos últimos 7 dias

Deixe seu comentário sobre esta noticias

Artigos Relacionados

Botão Voltar ao Topo
Translate »