Acreditem…O fim do mundo está chegando, mesmo que você já tenha ouvido tudo isso antes.

Os relatórios periódicos do Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas da ONU estão caindo na autoparódia.

Este é o seu último aviso, dizem eles. Vá em frente. Não fique de braços cruzados. Corrija o problema agora.

Nós queremos dizer isso!

Estou continuamente surpreso que os cientistas do IPCC não levantem suas mãos coletivamente em desgosto com a incapacidade da humanidade de despertar de seu sono e parar de emitir relatórios completamente.

Em vez disso, eles continuam exibindo fracos vislumbres de esperança e encorajamento que apenas talvez, talvez, talvez possamos chegar à ocasião. Não posso deixar de me perguntar se isso é apenas porque, bem, qualquer outra mensagem é inconcebível.

De acordo com o mais recente relatório do painel , divulgado na segunda-feira, o mundo está no caminho certo para superar a meta criticamente importante de limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius, ou 2,7 graus Fahrenheit – uma meta estabelecida há quase uma década no acordo climático de Paris. Se não conseguirmos manter o aquecimento nesse nível, dizem os cientistas há muito tempo, não será mais possível evitar muitas das consequências mais terríveis das mudanças climáticas.

Não há nenhum grande segredo sobre o desfile de catástrofes que se seguirá se as emissões continuarem a aumentar ininterruptamente: mais tempestades fora de controle, ondas de calor perigosas, inundações angustiantes, incêndios violentos e outros “eventos extremos sem precedentes no registro observacional”.

E isso é apenas o começo. A escassez de água e o calor levarão à escassez de alimentos e à desnutrição. A mudança dos padrões agrícolas forçará migrações em massa de dezenas de milhões de pessoas. Conflitos e guerras resultarão de uma competição acirrada por recursos minerais e água. As economias entrarão em colapso.

Isso é coisa de livros apocalípticos e filmes de ficção científica cataclísmicos.

No entanto, as pessoas ao redor do mundo responderam principalmente como crianças segurando os dedos nos ouvidos e gritando “Nyah nyah nyah” para abafar as más notícias. Nós torcemos nossas mãos, mas mudamos nosso comportamento apenas de forma incremental. Tomamos ações que podem ter feito a diferença 25 anos atrás, mas agora são muito pouco, muito tarde, depois de décadas de negligência, negação e passividade teimosa e irresponsável.

Você não precisa mais ser louco para subir em um palanque e proclamar que o fim do mundo está próximo. Tanto quanto posso dizer das mentes científicas mais brilhantes do mundo (mesmo que eu não entenda todos os detalhes técnicos, tenho fé no processo que os levou a suas conclusões), apenas uma mudança radical e transformacional na maneira como viver e trabalhar pode evitar desastres.

Apenas mergulhar grandes quantias de dinheiro no problema e adotar amplas mudanças comportamentais pode nos proteger. Acabar com nossa dependência de carvão, gás, petróleo e outros combustíveis fósseis precisa ser acelerado porque estamos ficando sem tempo e sem alternativas.

Certamente houve algum movimento, o que explica o vislumbre de esperança do IPCC. A tecnologia de energia limpa progrediu. Embora as emissões globais de carbono continuem a aumentar, a taxa de crescimento diminuiu. O uso de energia renovável se expandiu, mas não o suficiente. Os Estados Unidos, por enquanto, voltaram à dobra do acordo climático de Paris.

Mas as soluções não são grandes o suficiente para resolver o problema.

Por que não conseguimos responder adequadamente?

Neurocientistas, psicólogos e estudiosos do comportamento humano tentaram responder a essas perguntas. O professor de psicologia de Harvard, Daniel Gilbert, argumenta que reagimos instintivamente para nos proteger se uma bola de beisebol for arremessada em nossa direção, mas não estamos biologicamente preparados para nos preparar para ameaças grandes e lentas.

Aqui nos Estados Unidos, nosso sistema político democrático é inadequado para implementar políticas que exigem sacrifício e dor hoje em troca de ganhos futuros; os políticos que apoiam tais estratégias são expulsos do cargo.

Nosso sistema econômico recompensa o comportamento corporativo que maximiza os lucros de curto prazo para os acionistas, em vez do planejamento de longo prazo para um mundo melhor e mais estável.

Embora a mudança climática seja uma ameaça lenta e muitas vezes imperceptível, isso não significa que não seja iminente. Não é uma crise distante para os netos de nossos netos. Está vindo em nossa direção agora. Na verdade, está sobre nós.

No entanto, falhamos consistentemente em enfrentar o desafio.

Os cientistas estão cientes desde o final do século 19 de que a adição de dióxido de carbono à atmosfera pode aumentar as temperaturas globais. Meio século atrás, o derretimento do gelo na Antártida já havia sido documentado. Na década de 1970, a Exxon Mobil entendeu seu próprio papel no aquecimento dos oceanos e no derretimento do gelo polar. A primeira conferência internacional para tratar das mudanças climáticas foi realizada em Estocolmo há 50 anos.

Quando vi a história sobre o relatório mais recente do IPCC, quase a ignorei, porque, como todo mundo, li um milhão de vezes – e escrevi mil vezes. Eu sabia que isso me assustaria, me faria sentir impotente.

É por isso que esses relatórios podem parecer contraproducentes: as pessoas se acostumam. Eles compartimentam. Eles ficam deprimidos, juram não trazer filhos ao mundo.

Ou eles folheiam as páginas de esportes, dizendo a si mesmos que outras notícias são mais urgentes: seis pessoas mortas a tiros em Sacramento; Ucranianos massacrados quando soldados russos saíram de Bucha; os destaques do Grammy.

Mas não vamos nos enganar. Podemos clicar no relatório do IPCC, mas os fatos permanecem. Problemas sérios estão por vir e não estamos fazendo o suficiente para detê-los.

Esta história apareceu originalmente no Los Angeles Times .