Catador de recicláveis é arrastado pela correnteza após salvar adolescente no litoral de SP: ‘morreu como herói’

Vítima não tinha contato com a família há 20 anos e, portanto, foi sepultado apenas por alguns poucos amigos. Os parentes descobriram o caso nas redes sociais e foram a Itanhaém (SP) para se despedir. Amigos homenagearam Marcelo o chamando de ‘herói’ por ter salvo uma adolescente
Arquivo pessoal
Um catador de recicláveis morreu afogado após salvar uma adolescente em uma praia em Itanhaém, no litoral de São Paulo. O corpo foi sepultado nesta quarta-feira (4), por amigos da vítima, que publicaram a história nas redes sociais com objetivo encontrar familiares do homem, que há anos não tinha contato com os parentes.
Marcelo de Jesus, de 49 anos, morreu em 25 de abril, na Praia dos Sonhos. Após salvar a vida de uma adolescente que estava em situação de afogamento, ele acabou arrastado pela correnteza. O enterro só aconteceu nesta quarta-feira (4) porque o Instituto Médico Legal (IML) aguardava algum familiar reconhecer a vítima para liberar o corpo.
Ao g1, o IML explicou que o corpo permaneceu preservado em uma câmera fria e à espera da família, durante aproximadamente 10 dias, antes de ser sepultado. O único parente localizado, porém, afirmou que não iria reconhecer Marcelo, pois não o via há 20 anos.
Família afirma ter notícias da morte após publicação nas redes sociais
Reprodução Facebook
“O IML realiza a necropsia e o corpo é liberado para os familiares imediatamente, mas a família tem que comparecer para retirar o corpo. Foi localizado um familiar e avisado para fazer o reconhecimento, mas ninguém compareceu”, disse o órgão, em nota.
Ainda segundo o Instituto, como nenhum parente se prontificou a liberar o corpo, foram adotadas as “medidas necessárias” para dar sequência aos trâmites burocráticos. O IML explica ter notificado as autoridades e o Serviço Social para dar dignidade ao atendimento e sepultamento da vítima, que é realizado, neste caso, pelo serviço funerário municipal”, explicou em nota.
Estiveram presentes no sepultamento cinco amigos de Marcelo
Arquivo pessoal
Triste despedida
Cleonice Francisca, amiga de Marcelo há pelos menos dez anos, contou ao g1 que ficou triste por ter que sepultá-lo sem a presença da família.
“Me senti super mal. Me vi no lugar dele, sem nenhum parente para dar o último adeus, meu coração cortou de tanta tristeza”. Ao mesmo tempo, leva como conforto, uma frase que Marcelo dizia: “você é a família que Deus me deu, o que seria de mim sem você e seu marido?”, lembra.
O corpo foi sepultado por Cleonice, o marido dela e mais alguns amigos e vizinhos, que homenagearam Marcelo. “Para mim ele foi um herói, independentemente da vida [que levou], e da situação que se encontrava, nós o amamos muito. Ele morava em uma casa abandonada. A proprietária ‘deixou ele’ morar lá porque ele não tinha onde ficar”.
Amigos e vizinhos se reuniram para sepultar a vítima
Arquivo pessoal
Segundo Cleonice, a vítima era muito trabalhadora. “Ele pegava reciclagem na rua, vendia latinha, era ajudante de pedreiro. Era uma pessoa muito boa. Tinha os defeitos dele, mas era muito prestativo, gostava de ajudar os outros e era apaixonado por criança”, relatou.
Após o sepultamento, Cleonice postou o caso nas redes sociais e conseguiu localizar alguns dos familiares, como sobrinhos, irmãs e a mãe de Marcelo. O g1 entrou em contato com Rosana de Jesus, uma das irmãs da vítima.
Rosana contou que soube da morte do irmão na tarde da última quarta-feira (4), pelas nas redes sociais e, que na quinta-feira (5), veio a Itanhaém junto com dois sobrinhos e a mãe de Marcelo. Os parentes moram em São Paulo.
“Vamos até o cemitério e depois tentar encontrar as pessoas com quem ele convivia. É complicado, dolorido, mas temos que enfrentar. Não sei como ele viveu durante os anos que estava longe. Sinto culpa por não ter dedicado mais tempo para encontrá-lo. A vida que foi nos afastando”, desabafou.
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