Litoral

Morte de bebê de oito meses após injeção acende alerta para procedimentos em crianças; médicos explicam condutas


Dois médicos pediatras prestam esclarecimentos sobre o tema. Valentim completou 8 meses no dia 24 de abril de 2022
Arquivo Pessoal
A morte de um bebê de oito meses minutos após receber uma injeção em um centro clínico em Guarujá, no litoral de São Paulo, acende um alerta: quais procedimentos médicos devem ser adotados em crianças? O g1 ouviu dois pediatras para explicar e orientar sobre o tema.
Os profissionais não avaliaram o caso do menino Valentim Viegas Mazagão dos Santos, a vítima citada acima. No entanto, apontaram como reagiriam em situação semelhante.
O intensivista pediátrico Lourival Ferreira de Assis, que atende em Santos, disse que é raro haver necessidade de aplicar injeção em crianças, salvo as vacinas. Entretanto, aponta que a droga injetável pode ser opção quando é preciso ter uma resposta rápida ao medicamento, como para baixar a temperatura: “não é o protocolo [a aplicação]”, disse o médico.
Uma pediatra que conversou com a reportagem e preferiu não se identificar concorda com o colega que injeções podem ser uma saída, a depender da urgência do caso.
Ao citar novamente o caso de Valentim que, segundo a família, recebeu uma injeção de corticoide antes de realizar o exame de raios X solicitado, o intensivista pediátrico diz que aguardaria o resultado do procedimento. “Não é a conduta normal fazer a medicação injetável sem ter um diagnóstico de certeza”, ressaltou Lourival, que contou apenas como procederia em caso semelhante.
Valentim morreu no mês que completaria 9 meses de vida
Arquivo Pessoal
Sobre o tipo de medicamento aplicado, ele disse que “o corticoide baixa a imunidade da criança, e pode complicar”. “Se for uma infecção, uma broncopneumonia, por exemplo, você vai agravar violentamente o quadro. Outra coisa, às vezes a criança está com uma miocardite [processo inflamatório no coração] e, se fizer uma medicação injetável na veia, pode sobrecarregar mais ainda o coração e a criança ter uma parada cardíaca por isso”, argumenta.
Em contrapartida, a pediatra comenta que, em alguns cenários, é necessário medicar os pequenos sem antes fazer exames específicos. “Se ela [criança] chega em urgência, você tem que fazer a medicação para depois fazer a imagem”, afirma.
Intolerância à corticoide é baixa
Lourival comenta, no entanto, que a probabilidade de o paciente ter apresentado algum tipo de intolerância ao medicamento [corticoide] é baixa, já que “ele é o antialérgico mais potente que existe”. Para o médico, portanto, caso o bebê tivesse alguma manifestação contrária ao medicamento, a família dele provavelmente também teria, e saberia da condição.
A pediatra ouvida pelo g1 defende o mesmo ponto. Segundo ela, a chance da causa da morte ter sido por alguma reação ao corticoide é baixa.
Roupa que bebê vestia ficou com manchas de sangue após atendimento de emergência
Arquivo Pessoal
Relembre o caso
O pequeno Valentim Viegas Mazagão dos Santos, de oito meses, morreu na sexta-feira (13) após receber uma injeção em Centro Clínico particular em Guarujá. A família o levou para a unidade de saúde por volta das 15h porque ele apresentava sintomas de gripe. Lá ele foi medicado na veia e, quando a família se preparava para ir embora, ele desmaiou. A equipe médica do Centro Clínico Frei Galvão da Notredame Intermédica tentou reanimá-lo, mas não conseguiu. O bebê morreu perto das 17h.
A família afirma que a médica pediatra que atendeu o bebê solicitou um exame de raios X e indicou a medicação com corticoide. Ao mesmo tempo, a família foi informada de que a unidade de Guarujá não dispõe de equipamento de raios X, apenas o centro clínico em Santos, cidade vizinha.
Segundo a família, a médica insistiu para que a medicação fosse aplicada em Guarujá e que o exame fosse realizado posteriormente. Após a morte do pequeno Valentim, a médica pediatra teria informado à família que a morte de Valentim aconteceu porque ele broncoaspirou catarro.
Centro Clínico Frei Galvão da Notredame Intermédica em Vicente de Carvalho, em Guarujá (SP)
Reprodução
“Isso não pode ficar impune. Sei que não trará o neném de volta, mas não podemos permitir que outras famílias passem por essa dor”, desabafou Madalena Mazagão, tia do bebê. O caso foi registrado como morte suspeita, súbita e sem causa determinante aparente na Delegacia de Polícia (DP) Sede de Guarujá.
Estiveram no DP para prestar depoimento a família de Valentim e os profissionais da saúde envolvidos no atendimento. A médica pediatra que atendeu o paciente, prescreveu a medicação e auxiliou no processo de reanimação dele esteve presente na elaboração do documento, mas preferiu não comentar o caso antes de se consultar com um advogado.
Notredame Intermédica responde. Confira a íntegra:
“Paciente entrou na unidade com sintomas gripais, e com desconforto respiratório, para tratamento foi aplicado hidrocortisona, após medicação paciente saiu do local para realizar RX [exame de raios X]. A família retornou após 15 minutos com a criança com rebaixamento de consciência. Nesse momento a criança foi levada a sala de emergência, outra médica foi acionada para suporte, todos os procedimentos e protocolos necessários foram feitos, sem sucesso.”
Caso foi registrado na Delegacia de Polícia Sede de Guarujá (SP)
Reprodução
VÍDEOS: g1 em 1 Minuto Santos

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