Litoral

Oito anos após mulher ser espancada até a morte em SP, fake news segue fazendo vítimas como o turista queimado vivo no México


Fabiane Maria de Jesus foi espancada até a morte em Guarujá, no litoral de SP, em maio de 2014, após ser vítima de uma notícia falsa compartilhada nas redes sociais. Família ainda luta por indenização. Oito anos após morte de Fabiane, casos de linchamento gerados por fake news ainda são registrados
Reprodução e Reprodução/Facebook/Daniel Picazo
Após 8 anos do assassinato de Fabiane Maria de Jesus, espancada até a morte por moradores de Guarujá, no litoral de São Paulo, um homem foi linchado e queimado vivo no interior do México no último dia 10. O g1 ouviu o oficial da reserva do Exército Brasileiro e especialista em segurança Vinicius Vaz Ferreira, que alertou sobre a importância da checagem de informações.
Fabiane foi vítima de uma notícia falsa publicada e compartilhada em maio de 2014 no Facebook. Ela foi confundida com uma suposta sequestradora de crianças para rituais de magia negra, amarrada e agredida. Quatro pessoas estão presas pelo crime.
O marido de Fabiane, Jailson Alves das Neves, disse que se solidariza com as pessoas que sofrem ou sofreram por causa de fake news e espera que os familiares de vítimas, assim como ele, encontrem um conforto. “Agora encontrei o consolador da minha alma que é Jesus Cristo. Lembranças eu e minha filha sempre teremos”.
O advogado de defesa da família de Fabiane, Airton Sinto, reforçou que esse foi o primeiro caso de fake news que ocasionou uma morte e que teve repercussão internacional. Até agora, oito anos após o crime, a família da vítima luta pela indenização da rede social.
Nenhuma alteração porque estamos aguardando o julgamento dessa ação com repercussão geral, que vai acabar norteando a jurisprudência nessa questão da constitucionalidade ou não do art.19 do Marco Civil, que determina que os provedores não são responsáveis pelas postagens dos usuários, o que é um absurdo”.
“O Facebook sempre teve essa ferramenta de poder saber o que foi postado, como ele faz hoje. Se você escreve algo que é contrário à política deles, [pouco depois] sua postagem está apagada e o seu perfil bloqueado, eles têm essa ferramenta e tinha na época, deixaram propagar as coisas na postagem da Fabiane porque eles estavam movimentando a rede, são totalmente culpados”, disse Sinto.
Justiça com as próprias mãos
Vinícius Vaz ressalta que existem muitos canais de comunicação não oficiais e o internautas, às vezes, deixam de checar a informação. ” As pessoas acabam se apegando à rede social usada para passatempo e a utilizam como uma fonte de informação”.
“Na era digital, a informação vem rápido e você [as pessoas] não procura a origem. Primeiro passo é se certificar da origem dessa informação”, disse Vinícius Vaz.
Segundo o especialista em segurança, as pessoas que praticam a justiça com as próprias mãos agem na emoção, especialmente quando o assunto é voltado para crianças ou de mulheres vítimas de agressão. “A gente acaba tomando as dores de uma emoção, que foge da régua normal de julgamento”.
“A pessoa tem que ter esse autocontrole de não querer fazer [justiça] com as próprias mãos. [Se tomar tal atitude] estará tirando o julgamento e a punição que a Justiça faria para aquele agressor e transferindo para você, que resolver fazer justiça com as próprias mãos”, afirmou.
Ele acredita que as pessoas que praticam esses atos estão descrentes com a Justiça. “É uma cultura que está sendo criada por causa da insatisfação da sociedade”.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que o ato de violência, mencionado na reportagem, pode ser punido de acordo com a legislação em vigor e que toda vítima ou testemunha de um crime deve acionar as forças de segurança pelos números 190 da Polícia Militar ou 197 da Polícia Civil.
O g1 entrou em contato com o Facebook sobre a questão da indenização contra a rede social, mas a empresa informou que não vai se pronunciar sobre o caso.
Entenda os casos
A dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, morreu na manhã no dia 5 de maio de 2014, dois dias após ter sido espancada por dezenas de moradores de Guarujá. A agressão ocorreu no bairro Morrinhos, após um boato gerado por uma página no Facebook que afirmava que a dona de casa sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra.
A polícia identificou cinco suspeitos pelo espancamento e eles foram levados a julgamento. Em outubro de 2016, Lucas Rogério Fabrício Lopes, foi condenado a 30 anos de cadeia por participação no crime.
No dia 28 de janeiro de 2017, outros quatro foram condenados: Abel Vieira Batalha Júnior, Carlos Alex Oliveira de Jesus, e Jair Batista dos Santos, todos estes receberam pena de 40 anos de prisão em regime fechado; e Valmir Dias Barbosa, de 26 anos de detenção.
Fabiane Maria de Jesus foi linchada e morta após boatos
Reprodução
Linchado e queimado vivo
Moradores de uma comunidade no interior do México lincharam e queimaram vivo Daniel Picazo, de 31 anos, que identificaram equivocadamente como ladrão de crianças. O caso aconteceu na noite da última sexta-feira (10), após um boato que se espalhou na localidade de Papatlazolco sobre uma suposta tentativa de sequestro de menor.
Os moradores enfurecidos capturaram Daniel, o espancaram e o queimaram vivo com gasolina. Polícia e paramédicos deslocaram-se ao local, mas nada puderam fazer porque os assassinos não permitiram a passagem.
Quando o resgate finalmente conseguiu chegar até Daniel, ele já não apresentava sinais vitais. O jovem advogado, segundo o jornal local “El Universal”, estava apenas passeando pela cidade como turista
Alguns moradores comentaram que a comunidade estava assustada, pois um áudio compartilhado em um aplicativo de mensagens alertava sobre um desconhecido que andava pela região com o intuito de sequestrar crianças.
Daniel Picazo estava apenas passeando por Papatlazolco, mas acabou linchado
Reprodução/Facebook/Daniel Picazo
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