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Cerca de 8 peças de carne foram descartadas após larvas serem achadas em Itanhaém, no litoral de São Paulo.


Produtos foram descartados em Itanhaém, no litoral de São Paulo. Nutricionista aponta que quantidade poderia alimentar cerca de 80 pessoas, se o alimento estivesse em boas condições. Funcionários de mercado jogam cloro em carnes após mulher encontrar larvas em peça
Ao menos oito peças de carnes à vácuo foram inutilizadas com cloro em um mercado no Centro de Itanhaém, no litoral de São Paulo. As peças de carne foram inutilizadas depois que a auxiliar de enfermagem Kelly Beck Tofteraa, de 36 anos, retornou ao mercado para ser ressarcida pela carne com larvas que havia comprado no local. O g1 obteve um vídeo do momento em que os funcionários jogam o produto químico nas carnes a pedido do pai de Kelly (veja o vídeo acima).
De acordo com o coordenador do curso de Nutrição da UniSantos, Cesar de Azevedo, ao considerar que cada pacote pesa em média um quilo, pode-se dizer que 80 pessoas poderiam ter consumido o alimento descartado, caso fosse comprovada a boa condição para tal fim.
“Pensando em uma família, dois adultos e duas crianças, então seria necessário, pelo menos, algo em torno, de 350g a 400g porque cada um come cerca de 100g de carne. Se você joga 1kg, você deixa de alimentar 10 pessoas, calculando 100g por pessoa. Elas deixam de ter uma fonte de ferro que é essencial para a saúde”, disse Azevedo.
Embora a quantidade exata de carne descartada não seja conhecida, porque os números não foram divulgados pelo mercado ou vigilância sanitária de Itanhaém, o coordenador fez a conta com base nas oito peças abertas e banhadas por cloro. Segundo Azevedo, que cada pacote tivesse 1kg, este poderia alimentar 10 pessoas “Então, oito pacotes jogados fora poderiam alimentar 80 pessoas em uma refeição”.
De acordo com o nutricionista, a quantidade necessária de carne por dia é 200g, mas não necessariamente precisa ser carne bovina, que pode ser consumida de 3 a 4 vezes por semana, variando com outras carnes como porco, frango e peixe.
“É recomendado que tenhamos duas porções de carne por dia, [mas] a gente pode substituir por outras fontes proteicas como ovo, leites e derivados”.
O especialista explicou que carne é uma excelente fonte de proteínas e que fornecem matéria-prima para reconstrução dos nossos órgãos, da manutenção e da estrutura física na constituição de enzimas e várias substâncias essenciais ao nosso organismo.
Carnes foram colocadas em cloro a pedido de cliente após encontrar larvas em uma peça comprada em mercado no Centro de Itanhaém
Kelly Beck Tofteraa/Arquivo Pessoal
“Desperdiçar carne significa que você joga fora matéria-prima para manter a função construtora do nosso organismo, que são as proteínas, e eliminar o ferro que é um elemento essencial para síntese de hemoglobina para evitar anemia, sendo que a principal fonte de ferro que nós temos na alimentação é proveniente da carne vermelha”, disse o Azevedo.
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O g1 entrou em contato com a Vigilância Sanitária de Itanhaém, por meio da prefeitura, mas não obteve retorno se o órgão consultou o caderno de anotações do RT [responsável técnico na área de alimentos]. No item, deveria ter sido anotado o descarte das peças e a quantidade. A reportagem também questionou o Extra sobre as anotações, mas a rede não se pronunciou sobre o assunto (veja o posicionamento do mercado abaixo).
O médico veterinário pós-graduado em Vigilância Sanitária e Controle da Qualidade dos Alimentos Paulo Alberto Torres Globo disse que a Vigilância Sanitária pode requisitar ao estabelecimento o caderno com anotações realizadas pelo RT. “Acredito que no dia [do descarte] o RT não estava presente porque tenho certeza que não seria descartado o lote inteiro”.
O coordenador do Procon Regional de Santos, Fabiano Mariano, participou da fiscalização no estabelecimento, na quarta-feira (13), onde duas irregularidades relacionadas à ausência de preço e produtos fora do prazo de validade foram encontradas no mercado, e disse que desconhece os procedimentos realizados pela Vigilância Sanitária, porém a questão da carne compete ao órgão atestar eventuais irregularidades.
Auxiliar de enfermagem disse que todos vomitaram ao notar que a carne estava com larva em Itanhaém, SP
Kelly Beck Tofteraa
Segundo a Vigilância Sanitária, por meio da prefeitura de Itanhaém, nenhuma irregularidade foi encontrada no estabelecimento durante a fiscalização. O órgão informou que o mercado faz descarte de produtos diariamente, isso não é verificado pela Vigilância e entra no registro de quebra do mercado.
Ainda de acordo com o órgão, o estabelecimento tem sua cota de descarte por vencimento e por deterioração diária e o que não pode é colocar esses produtos fora da validade para venda.
O Extra informou que os apontamentos feitos pelo Procon, e sinalizados em auto de constatação, foram imediatamente resolvidos: o item vencido foi descartado e foram colocadas etiquetas de preço nos produtos sinalizados. Esses casos foram isolados e não estão em linha com as diretrizes da companhia; os colaboradores foram reorientados.
A rede ressaltou, ainda, que, durante a visita técnica, as áreas internas da loja foram inspecionadas, incluindo depósito, câmaras frias e áreas de perecíveis, e todos os pontos auditados estavam em conformidade.
Entenda o caso
Kelly Beck Tofteraa teve uma surpresa desagradável ao encontrar larvas de moscas em uma peça de carne que foi comprada embalada à vácuo no Mercado Extra, no Centro, em Itanhaém. Ao g1, ela disse que antes de perceber os bichos, ela já havia trocado uma peça de carne que estava com cheiro podre. O mercado informou ter trocado o produto imediatamente, e que o item estava dentro da validade.
A reportagem recebeu um vídeo de Kelly, em que ela e os familiares aparecem revoltados assim que encontraram larvas na carne durante o churrasco (veja o vídeo abaixo).
Mulher encontra larvas em carne comprada no Extra em Itanhaém
Um outro vídeo obtido pelo g1 mostra os funcionários do mercado abrindo embalagens de carne à vácuo, colocando-as em um tanque e jogando cloro. As imagens foram gravadas após a auxiliar de enfermagem levar ao estabelecimento uma peça de carne com larvas que havia comprado no local. O procedimento é considerado de praxe quando há a intenção de torná-lo impróprio para consumo, segundo a médica veterinária e pesquisadora na área de Inspeção de Alimentos na Unimes Daniele Raimundo.
Nas imagens, o pai de Kelly diz ao funcionário que quer ver eles jogarem cloro nas carnes que estavam ali para que elas não fossem mais vendidas. “Não vou fazer B.O [boletim de ocorrência], não vou fazer nada, mas quero ver isso aí”. Kelly confirmou à reportagem que fez o pedido para “ter certeza de que eles não venderiam as carnes para mais ninguém”.
No entanto, o médico veterinário pós-graduado em Vigilância Sanitária e Controle da Qualidade dos Alimentos Paulo Alberto Torres Globo disse que o mercado não tem obrigação de jogar cloro nas carnes porque a cliente solicitou.
Na última quarta-feira (13), uma fiscalização realizada no estabelecimento identificou irregularidades relacionadas ao preço dos produtos e alimentos fora do prazo de validade. O mercado será multado em R$187 mil. A vistoria foi realizada pela Coordenadoria do Núcleo Regional de Santos, Vigilância Sanitária, Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Procon.
Segundo a prefeitura de Itanhaém, a Vigilância Sanitária não encontrou irregularidades no armazenamento das carnes. No entanto, o Procon autuou o mercado por outros dois problemas, esses relacionados a produtos sem preço e com prazo de validade vencido. Em nota, o Extra informou já ter resolvido as situações e ressaltou que os “casos foram isolados e não estão em linha com as diretrizes da companhia”.
Azeitonas em conserva fora do prazo de validade foram encontradas em mercado que vendeu peça de carne com larvas em Itanhaém, SP
Procon/Divulgação
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