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Pesquisadores da UFMG identificam condição favorável de mosquito à transmissão da dengue


Fenômeno conhecido como associação positiva entre vírus de insetos e vírus humanos potencializa a transmissão de dengue. Aedes aegypti
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Mosquitos Aedes Aegypti infectados por dois tipos de vírus de insetos, ao mesmo tempo, têm maior potencial de transmissão do vírus da dengue aos humanos. A descoberta é de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), divulgada nesta terça-feira (7).
De acordo com os estudos, os mosquitos infectados pelos vírus Humaita Tubiacanga virus (HTV) e Phasi Charoen-like virus (PCLV) têm chances três vezes maior de carregar, também, o vírus da dengue. Apenas o último é transmissível a seres humanos. O professor João Trindade Marques, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), lidera a pesquisa e explicou esse cenário.
“O resultado interessante foi que nós percebemos uma associação positiva: na presença do HTV e do PCLV, observamos que os mosquitos tinham chance três vezes maior de carregar o vírus da dengue”, disse.
Esse efeito é chamado de “associação positiva” e foi identificado entre a transmissibilidade da dengue e a presença desses vírus específicos nos mosquitos. Segundo os pesquisadores, o fenômeno é incomum.
Ainda de acordo com os pesquisadores, o HTV e o PCLV são os vírus mais frequentes e prevalentes nas populações de Aedes aegypti do mundo.
Transmissão
A presença desses dois vírus nos mosquitos também afeta um ponto importante na cadeia de transmissão da dengue e da zika. O período de incubação é menor quando os insetos estão infectados pelo HTV e PCLV. Isso significa que, uma vez que passam a ter contato com vírus da dengue e zika, o tempo para transmissão aos humanos é menor.
“Esse tempo é extremamente importante, porque, quanto menor, maior a possibilidade de que haja um surto, já que o mosquito em campo tem uma expectativa de vida relativamente curta. No nosso caso, observamos uma redução de pelo menos dois dias no período de início da transmissão. Quando calculada a possibilidade de transmissão, considerando a presença desses dois vírus, nós observamos que aumenta pelo menos 10 vezes o número de casos de dengue esperados”, afirma João.
Efeitos práticos
O mais importante, segundo o professor João Marques, é compreender que os fatores que afetam a transmissão de arbovírus por mosquitos deve ser prioridade. Arbovírus são aqueles que transmitem doenças para humanos. A descoberta nesse estudo, segundo os pesquisadores, abre três frentes de trabalho.
A primeira delas é relativa à identificação de um novo parâmetro, que deve ser considerado em qualquer estudo que tenha o objetivo a análise de risco de surtos.
“Hoje, a maioria das análises é feita com estudos de densidade de mosquito, e o nosso estudo mostra que um município ou região pode ter uma densidade dez vezes menor, mas, se houver a presença desses dois vírus específicos nos insetos, o risco de surto é tão grande quanto em um local com uma densidade dez vezes maior”, afirmou o professor.
A segunda possibilidade é a modificação do vírus ou do mosquito, para interferir na interação do inseto com esses dois vírus específicos.
“Com isso, vamos afetar também a interação com o vírus da dengue. Se conseguíssemos eliminar esses vírus da população de mosquitos, automaticamente a população humana se tornaria menos exposta ao vírus da dengue”, disse.
A terceira é entender fatores do mosquito que são importantes para ele e que podem ser alvos de intervenção.
“Isso poderia nos indicar, por exemplo, o que seria possível modificar geneticamente em populações de mosquito para gerar mosquitos resistentes à dengue” finalizou João.
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