G1Litoral

Desabrigados em tragédia em Santos há três anos voltam para o local de risco: ‘aqui ninguém dorme’;


Em 2020, 45 pessoas morreram em deslizamentos de terra provocados por fortes chuvas na Baixada Santista, sendo oito delas em Santos (SP). O g1 conversou com moradores para mostrar como está a vida deles e a situação do local após o desastre. Confiram o antes e o depois do deslizamento no Morro São Bento em Santos (SP)
Initial plugin text
Quase três anos após um temporal ter atingido a Baixada Santista, no litoral de São Paulo, e resultado na morte de 45 pessoas, o g1 conversou com moradores dos morros do Pacheco e São Bento, em Santos. Eles vivenciaram a tragédia e as perdas de conhecidos, que foram soterrados após os deslizamentos de terra em 2020. Agora, contam como estão os locais afetados.
O motorista e morador do Morro do Pacheco, Joselito Ferreira Cardoso, de 39 anos, disse que a prefeitura só realiza algumas melhorias nas escadarias, mas desde a tragédia, em 2020, nenhuma obra de contenção foi executada no local.
Números da tragédia
Guarujá: 34 mortes (região atingida pelo temporal em 2020 foi novamente afetada, mas sem vítimas fatais)
Santos: 8 mortes
São Vicente: 3 mortes
“Nesse local específico onde faleceu [uma pessoa] não teve obra. O que eles fizeram foi colocar encanação [de rede de esgoto, que vazam com frequência]. [Profissionais da prefeitura] que era provisória, por três meses, e que depois arrumariam, mas até hoje nada’, disse o motorista.
Segundo Joselito, os moradores vivem apreensivos e não conseguem dormir por causa das chuvas. “Teve uma queda de barreira nesse final de semana, mas foi pouca coisa. Aí o pessoal já fica todo assustado, nem dorme. Está todo mundo desesperado aqui”.
De acordo com o motorista, nem os escombros da última tragédia foram retirados do local. “Nem a limpeza [fizeram]. A gente vive com medo aqui. Tento ficar orientando todos a olharem e a qualquer suspeita avisarem, mas aqui ninguém dorme. A prioridade é essa obra de contenção, pelo menos para nós já aliviaria bastante”.
“Nunca resolveram, prometeram uma obra de contenção e toda vez é um prazo diferente”, disse.
Morro São Bento
Morro São Bento após deslizamento de terra causado por forte chuva em março de 2020
Vanessa Rodrigues/A Tribuna Jornal
A auxiliar de administração e fotógrafa Beatriz Neves, de 24 anos, é moradora do Morro São Bento e afirmou que muitas reformas foram realizadas desde a tragédia, principalmente na descida do Fontana, na Avenida Nossa Senhora do Monte Serrat, e na subida da Avenida São Cristovão.
“Foram quase dois anos com minha rua interditada pelas obras, uma equipe grande trabalhou na contenção de terra que descia do morro”, disse.
Durante a forte chuva do último final de semana, Beatriz disse que não estava na cidade, mas não se preocupou porque a casa dela tem fundações firmes. “Há três anos foi um susto. Estava voltando da faculdade e vi o morro desabando a oito metros de casa”.
Ela ressaltou, ainda, que os familiares também se sentiram mais tranquilos dessa vez e não ficaram preocupados como antes, mas que a prefeitura deveria realizar o corte dos bambus da região. “A população não pode fazer isso, mas eles poderiam contribuir. Quando venta muito, assusta [moradores têm medo de que a vegetação caia sobre as casas]”.
FOTOS: Veja como estão os morros de Santos que foram atingidos por tragédia em 2020
Medidas preventivas
Em Santos, desde 1° de dezembro de 2022 até 30 de abril deste ano, está em vigor o Plano Preventivo da Defesa Civil (PPDC), que visa instruir moradores das áreas de risco sobre deslizamentos de terra, além de avaliar as condições dos morros da cidade.
O objetivo do plano é verificar a segurança dos 17 morros santistas no período com maior frequência e volume de chuvas, sendo que o município conta com 11 mil moradias em estado de observação, sendo 6 mil de baixo e médio risco para deslizamento, 4 mil avaliadas de alto risco, além de outras 1.100 consideradas de altíssimo risco.
LEIA TAMBÉM:
‘Chuva é motivo de insônia’, diz morador de morro onde deslizamento matou homem em março no litoral de SP
Corpo de última vítima de deslizamentos é encontrado após 15 dias de buscas em Guarujá, SP
Veja quem são os mortos pela chuva que atingiu a Baixada Santista
Medidas reforçadas
Com a previsão de chuvas fortes, a Prefeitura de Santos reforçou, neste mês, medidas preventivas nos morros, além de uma intensificação no trabalho de orientação e fiscalização por parte da Defesa Civil municipal.
De acordo com a administração municipal, foi iniciada uma série de 12 obras de drenagem e contenção em 10 morros santistas, um investimento de R$ 54 milhões.
O g1 solicitou algumas informações sobre a situação do trabalho de prevenção de novas tragédias, quantidade atualizada de pessoas que moram nesses locais, obras que já foram realizadas até o momento, e respostas para as reclamações feitas pelos moradores, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Relembre o caso
A chuva forte que atingiu a Baixada Santista em março de 2020 deixou 45 pessoas mortas. Em Guarujá, foram 34 mortes registradas, enquanto em Santos foram oito e, em São Vicente, três vítimas fatais.
O temporal começou na noite de 2 de março e estendeu-se durante toda a madrugada e manhã do dia seguinte. Moradores registraram alagamentos, e ruas ficaram intransitáveis em toda a Baixada Santista. Passageiros de um ônibus mostraram o rápido aumento do nível da água no interior do veículo. Diversas linhas de ônibus e itinerários foram comprometidos pelo temporal.
Na época, houve quedas de barreira nas rodovias Anchieta, Cônego Domênico Rangoni, Rio-Santos e Guarujá-Bertioga, que fazem a ligação de cidades da Baixada Santista com outras regiões do Estado de São Paulo. As rodovias precisaram ser interditadas.
VÍDEOS: Mais assistidos do g1 nos últimos 7 dias

Deixe seu comentário sobre esta noticias

Artigos Relacionados

Botão Voltar ao Topo
Translate »