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Soro inédito contra o veneno de abelhas entrará em fase final de ensaios clínicos


O produto foi patenteado, e, na etapa 3, serão avaliadas e refinadas a eficácia e o ajuste de dose. 500 pacientes serão recrutados para os testes, previstos para terminarem em cinco anos. Soro inédito contra veneno de abelhas entrará em fase final de testes clínicos
Um soro antiapílico, usado contra o veneno de abelhas africanizadas, também chamadas de apis mellifera, entrará em fase final de ensaios clínicos neste ano.
O soro é produzido pelo Instituto Butantan, Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) de Botucatu – SP, e Instituto Vital Brazil, de Niterói, na região metropolitana do Rio.
Os pesquisadores estão no processo de submissão do projeto a editais de financiamentos de pesquisas. Parcerias com hospitais também deverão ser estabelecidas, uma vez que 500 pessoas serão recrutadas para os testes.
Soro antiapílico
ReproduçãoGlbonews
Ao final, atestada a eficácia, o soro poderá ser oferecido ao Sistema Único de Saúde, depois de aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Agora teremos a oportunidade de refinar, corrigir os números para melhorar a eficácia, além do ajuste de dose, ou seja; a duração, a velocidade de infusão do soro, que é o que vai regular quantas gotas por minutos e para quantas picadas”, explicou o bioquímico do projeto e pesquisador do Instituto Butantan, Daniel Pimenta.
Acidentes com abelhas
Reprodução/Globonews
A ideia de criar o soro partiu dele do pós-doutorando Rui Seabra, que também é pesquisador do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos da Unesp de Botucatu.
Desenvolvido desde 2010, na fase 2 dos estudos clínicos, que atesta a segurança, os pesquisadores se animaram com os resultados, que, além de avaliarem que os 20 pacientes testados não tiveram piora no quadro, também apresentaram melhora – que é o que é avaliado nesta nova fase.
Os voluntários adultos, com idade média de 44 anos, levaram de sete a 2 mil picadas e não foi observado nenhum efeito adverso grave. A pesquisa foi conduzida no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Unesp em Botucatu e no Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Tubarão, em Santa Catarina.
Em 2017, uma das pacientes que participou dos ensaios deu entrevista para o Globo Rural, da TV Globo, relatando como se sentiu após tomar o soro. “Em questão de dor foi quase instantâneo. E já no outro dia eu vi que as manchas que eram grandes foram diminuindo”, contou Camila na época.
Pesquisadores brasileiros descobrem soro que combate veneno de abelhas
A descoberta brasileira já foi patenteada no Brasil e no exterior, e publicada em várias revistas científicas internacionais, como na Frontiers in Immunology.
A produção é feita em cavalos, sem afetar a saúde do animal, pois há um diferencial no método brasileiro chamado pelos pesquisadores de ‘detoxificação’. É quando a substância que causa a alergia no veneno de um inseto é retirada.
“Se dermos uma dose subletal, abaixo da tóxica, para o cavalo, ele pode ter reação alérgica, um choque anafilático e morrer. Seria uma tragédia. Então, na bioquímica, desenvolvemos um processo em que retiramos tudo o que causa alergia e o que não é interessante do ponto de vista do soro, e separou só aquilo que é o que causa o envenenamento”, explicou Daniel.
Após finalizado, o soro não será recomendado para alérgicos, e sim para quem levar múltiplas picadas de abelha e receber grande quantidade de veneno. Os pacientes alérgicos devem ser tratados com anti-histamínicos e anti-inflamatórios.
O efeito tóxico do veneno só ocorre a partir de dezenas de picadas, quando o indivíduo é atacado por um enxame. São nesses casos que o soro será aplicado.
“As toxinas do veneno das abelhas podem causar hemorragias, queda de pressão, tontura, náuseas e taquicardia. O principal alvo do veneno da abelha é o rim, o paciente pode ter falência renal e morrer. O soro antiapílico age neutralizando o veneno”, disse Daniel.
Ainda que a fase 3 seja demorada, e o processo em desenvolvimento, as expectativas são grandes para o resultado final e, enfim o soro ser oferecido ao SUS para o tratamento das vítimas das picadas das abelhas. “Eu sei que na ciência nós temos que ser imparciais, a gente tem que esperar o dado, colher o dado, aplicar os testes estatísticos; mas a gente torce para que seja um sucesso tão grande e até melhor, finalizou o pesquisador Daniel Pimenta.
Abelhas africanizadas
As abelhas africanizadas são consideradas agressivas porque são defensivas.
Reprodução/GloboNews
As abelhas africanizadas são consideradas agressivas porque são defensivas. Elas são o resultado do cruzamento da abelha europeia com a espécie africana, introduzida na América na década de 1950, com o objetivo de criar abelhas adaptadas ao clima tropical para a produção de mel.
As regiões brasileiras com maior incidência de acidentes são o Sul e Nordeste, mas as maiores de letalidade ocorrem no Centro-Oeste e Norte.
Só neste ano, segundo o Ministério da Saúde, 193 acidentes com enxames de abelhas foram registrados no Brasil. Em 2022, foram 23.428 acidentes e 92 mortes. Em 2021, 18.854 e 56 mortes. Já em 2020, 19.040 acidentes e 75 mortes.
Considerando os últimos cinco anos, o número de acidentes é ainda maior. Cem mil envolvendo enxames de abelhas e, 303 mortes no período.

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