Índia prende chefe e químicos de farmacêutica de xarope que matou 19 crianças no Uzbequistão

Riski Agri, da Indonésia, mostra o xarope associado à morte de centena de crianças na Ásia. Seu filho (à esquerda) desenvolveu problemas no fígado.
Bay Ismoyo/ AFP
A polícia indiana afirmou que prendeu nesta sexta-feira (3) o diretor e dois químicos da empresa farmacêutica com xaropes para tosse ligados à morte de 19 crianças no Uzbequistão.
No fim do ano passado, centenas de mortes de crianças que ingeriram xarope para tosse foram registradas em países da Ásia Central e do Sudeste Asiático. A causa foi associada a substâncias nocivas encontradas dentro do medicamento.
No laboratório indiano onde as prisões desta sexta foram feitas, o governo indiano havia encontrado 22 amostras de remédios da Marion Biotech, a empresa que produziu os xaropes e perdeu a licença para produzir remédio.
com sede perto de Nova Delhi, “adulteradas e espúrias”, segundo um documento policial visto pela Reuters.
A polícia disse que prendeu o chefe de operações de Marion e dois químicos com base em uma denúncia recebida por um inspetor da Organização Central de Controle de Padrões de Drogas (CDSCO), que investigou a empresa três vezes em dezembro e uma vez em janeiro.
“As drogas adulteradas e espúrias podem causar danos graves ao público e suspeita-se que o material/registros relacionados possam ser descartados”, disse o inspetor antidrogas da CDSCO Asheesh Kaundal em sua denúncia.
Dois diretores da Marion estavam “fora do país e serão presos assim que desembarcarem na Índia”, disse à Reuters o oficial sênior da polícia Ram Badan Singh.
A empresa não respondeu às ligações da Reuters e não respondeu imediatamente a um e-mail solicitando comentários.
O Uzbequistão disse em dezembro que as crianças morreram depois de consumir os xaropes para tosse de Marion. A Índia suspendeu a produção de Marion logo depois.
A análise do Ministério da Saúde do Uzbequistão mostrou que os xaropes, Ambronol e DOK-1 Max, continham uma toxina, o etileno glicol. Os xaropes foram administrados em doses superiores ao padrão para crianças, seja pelos pais, que o confundiram com um remédio antigripal, seja por indicação de farmacêuticos, segundo a análise.
A mesma toxina foi encontrada em xaropes para tosse exportados para Gâmbia por outra empresa indiana, a Maiden Pharmaceuticals.
A Índia suspendeu em outubro a produção em Maiden por violações dos padrões de fabricação depois que a Organização Mundial da Saúde disse que quatro de seus xaropes para tosse podem ter matado dezenas de crianças em Gâmbia.
A empresa negou que seus medicamentos fossem os culpados pelas mortes na Gâmbia e testes feitos por um laboratório do governo indiano descobriram que eles não continham toxinas.
Um tribunal indiano sentenciou no mês passado dois executivos do Maiden a dois anos e meio de prisão por exportar drogas de má qualidade para o Vietnã há uma década.
As mortes na Gâmbia e no Uzbequistão prejudicaram a imagem da indústria farmacêutica indiana de US$ 41 bilhões, conhecida como a “farmácia do mundo”.