Guarujá

De Elizabeth I a Elizabeth II: como a coroa britânica influenciou diretamente a cultura de Santos


Historiador afirma que ingleses tiveram total influência na construção da cidade de Santos, no litoral de SP. Marcos vão desde a arquitetura e economia até o esporte, por exemplo. De Elizabeth I a Elizabeth II: influência da coroa britânica na história da cidade de Santos, no litoral de SP
Getty Images via BBC/Daniel Leal-Olivas/Pool/AFP
A influência dos ingleses na história de Santos, no litoral de São Paulo, é ‘total’, segundo especialistas ouvidos pelo g1. Um súdito da rainha Elizabeth I foi um dos personagens que marcaram o início da fundação da Vila Santista, no século XVI. A presença inglesa ganhou ainda mais força na metade do século XIX, com a exportação de café e as intervenções no Porto. A comunidade e a cultura britânica se consolidaram na vida santista, deixando marcas na arquitetura e costumes da cidade.
De acordo com o historiador Sérgio Willians, a história de Santos começou a ser contornada pelos ingleses quando a rainha Elizabeth I reinava no trono britânico. John Withall, ferreiro e genro de José Adorno – um dos primeiros donos de engenho de cana-de-açúcar da região, foi quem impediu o corsário também inglês, Edward Fenton, de agredir o povo durante uma invasão a Santos em 1583.
“Os corsários eram navegantes que tinham relação com seus reinos. Eles possuíam missões específicas, para explorar e conquistar em nome do reino, ou simplesmente, causar confusão em terras de reinos inimigos. Quando isso acontecia, eles agiam como verdadeiros ‘piratas’, saqueando, matando e destruindo tudo o que viam”, explicou Sérgio.
Thomas Cavendish e piratas invadiram a vila de Santos durante a noite de Natal em 1591
Arquivo/Memória Santista
Segundo o especialista, a Rainha Elizabeth I favorecia a ação dos corsários no Brasil. Uma das invasões patrocinadas pela coroa inglesa foi a de Thomas Cavendish, em 1591, em plena noite de Natal.
“Quando Fenton e Cavendish estiveram em Santos, o Brasil estava sob o domínio da Coroa Espanhola e os ingleses eram inimigos ferrenhos dos espanhóis. Por isso, no Período Filipino, o Brasil era constantemente ‘agredido’ pelas excursões inglesas. Assim, os corsários agiam como piratas com o aval de seus reinos”
Século XIX
Conforme afirmado pelo historiador Sérgio Willians, Santos ganhou todos os principais contornos na segunda metade de século XIX devido aos ingleses. As expedições do povo inglês iniciaram a partir de 1808, com chegada da família real portuguesa e o início do processo de independência do Brasil.
Nesta época, o café era o principal produto de exportação brasileira e, por conta disso, a presença inglesa no país se tornou mais intensa, principalmente nos investimentos em infraestrutura de transporte, comunicação, além de distribuição de energia, de água potável e gás.
“Santos, por conta de seu porto estratégico, foi alvo de diversas intervenções nestes setores”, acrescentou o especialista.
Igreja Anglicana, em Santos, em meados de 1920
Arquivo/Memória Santista
A influencia dos súditos do trono inglês na história de Santos foi mais intensa entre 1850 e 1920. Foram nesses 70 anos que a comunidade e a cultura britânica se consolidaram na vida santista.
“Na arquitetura, podemos dizer que a Estação do Valongo – no estilo Vitoriano, e o prédio do Anália Franco, são as grandes marcas. Em termos religiosos, a Igreja Anglicana, no José Menino, também é tida como uma grande referência da marca inglesa na cidade – e já completou 100 anos. Ali perto, temos o Santos Athletic Club, onde foram disputadas as primeiras partidas de cricket [esporte que utiliza bola e tacos] no Brasil”, relata Willians.
Além dos locais para práticas de lazer e religião, diversas empresas e obras que contribuíram para fomentar a economia e o crescimento de Santos. Entre eles, o historiador enfatiza o transporte, com a conhecida estação e linha férrea que ligava o Porto de Santos à capital e ao interior paulista, a São Paulo Railway.
Imagem de 1920 mostra linha férrea locomotiva que ligava o Porto de Santos à capital e ao interior, a São Paulo Railway
Arquivo/Memória Santista
“Podemos citar também a São Paulo Southern Railway, estação e linha férrea ligando o Porto de Santos à região de Sorocaba – mais tarde chamada de Sorocabana; a Western Telegraph (Serviços de Comunicação Via Telégrafo, com uso de cabos submarinos) e a The City of Santos Improvments, que cuidou de vários setores , como transporte urbano, bondes, distribuição de água, gás e energia elétrica”.
Últimas influências
A construção de locais para que os ingleses pudessem preservar os costumes, como o Clube dos Ingleses, Missão dos Marinheiros e a Igreja Anglicana contribuíram para a tipologia de outras edificações santistas.
“Muitos dos casarões construídos para a elite santista na zona da orla da praia ou até mesmo em bairros nobres do passado, como a Vila Nova, tiveram forte influência ou mesmo inspiração na arquitetura inglesa. Infelizmente muita coisa desapareceu”, explica o historiador.
Segundo especialista, o relógio de Western Telegraph era referência de horário para os santistas
Arquivo/Memória Santista
Hoje em dia, segundo Willians, não há muitos feitos que perduram ou influência dos ingleses com força na Baixada Santista. “É difícil dizer do ponto de vista das questões comportamentais. Em um mundo globalizado como hoje, perdemos muitas das influências diretas. Os santistas tinham hábitos de pontualidade, típicas dos bretões, muito em função do próprio relógio da Western Telegraph, que coexistiu com a cidade até 1973”, comenta.
“Esportivamente, o remo, aqui surgido para o Brasil, também teve forte influência britânica. Ainda hoje, os santistas praticam esta modalidade no dia a dia, mas com muitas descaracterizações em relação ao passado”, finaliza.
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