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Como o equipamento alemão contribui para a guerra na Ucrânia


Sistemas antiaéreos produzidos na Alemanha dão novo ânimo ao país sob invasão russa. Mas falta munição, que é cara. E a contraofensiva ucraniana é uma corrida contra o tempo que promete ser longa. Sistema antiaéreo Iris-T SLM; cada míssil custa mais de US$ 600 mil
Air Force Ukraine
A Aeronáutica da Ucrânia divulgou no início de maio que os sistemas de defesa aérea alemães Iris-T SLM já teriam derrubado 60 mísseis em 60 ataques russos – uma quota de 100% de sucesso, portanto. Não é possível verificar os dados de maneira independente.
No vídeo postado canal no YouTube da instituição, um soldado ucraniano descreve, diante de um Iris-T SLM, como ele e seus camaradas são capazes de detectar no radar a aproximação de mísseis ou drones russos e “partilhar essas informações com complexos de mísseis antiaéreos, por exemplo”. A coisa toda é “bastante impressionante”, comenta.
As Forças Armadas não permitem que repórteres independentes se aproximem dos modernos equipamentos de defesa alemães, que operam na Ucrânia a partir de locais altamente secretos, a fim de evitar interferências do inimigo.
Ao todo, a Alemanha comprometeu-se a fornecer quatro Iris-T SLM à Ucrânia. Segundo a “Lista dos serviços de apoio militar” do Ministério da Defesa de Berlim, a segunda entrega foi em abril.
No setor, esse sistema antiaéreo é considerado o mais moderno de produção alemã. Seu custo é de 150 milhões de dólares (R$ 740 milhões), informa André Frank, do Instituto de Economia Mundial (IFW) de Kiel, integrante de um grupo de pesquisa que calcula periodicamente o volume financeiro do apoio internacional à Ucrânia.
A fabricante é a Diehl Defence, sediada em Überlingen am Bodensee, no sul do país. Ela também produz os mísseis teleguiados Iris-T que integram o sistema e custam quase 617 mil dólares, estima o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês).
“Contraofensiva ucraniana não será como no cinema”
Nem Kiev nem a coalizão dos 54 países do grupo de contato para a Ucrânia, liderado pelos Estados Unidos, revelam exatamente quantas armas e quanta munição são exportadas para o país sob invasão russa.
Como declarou o ministro britânico da Defesa Ben Wallace, à câmara baixa do Parlamento em Londres, o Reino Unido já entregou mísseis Storm Shadow, fabricados por um consórcio franco-britânico. Trata-se de um marco nessa guerra: com alcance de 250 quilômetros, lançados por aviões eles permitirão à Aeronáutica ucraniana atacar eixos de abastecimento russos na península da Crimeia.
A chegada paulatina dos armamentos provenientes das nações apoiadoras é um dos motivos por que vem sendo adiada a tão esperada contraofensiva de Kiev, explica o especialista em assuntos ucranianos e russos Nico Lange.
Chuvas atipicamente extensas têm igualmente prolongado a assim chamada “estação da lama” no sul e leste da Ucrânia, tornando impraticável o tráfego de tanques e outros veículos blindados, acrescenta o ex-soldado e meteorologista americano David Helms.
Lange alerta que a contraofensiva longamente antecipada não transcorrerá como nos filmes, pois “não é um ataque-relâmpago da parte ucraniana”. Ele conta, antes, com um “procedimento cauteloso, sistemático, lento”: “Um lado vai evoluir de acordo com as reações do outro, numa série de operações passo a passo”.
Isso provavelmente “vai durar muito”, como foi o caso na metrópole de Kherson, na parte sudoeste do rio Dnipro, cuja libertação do invasor russo demorou de agosto a novembro de 2022, avalia Lange. Os países aliados terão que garantir “apoio sistemático de longo prazo”, pois a Ucrânia necessitará um fluxo ininterrupto de munição.
Corrida contra o tempo
Em meados de abril, o Conselho da União Europeia liberou 1 bilhão de euros para compra de munição, tirados da European Peace Facility (EPF), o orçamento do bloco para política externa de segurança.
Para Nico Lange, contudo, a política europeia para a Ucrânia é lenta demais. Os países da UE tiveram a chance de “estar em pé de igualdade com os EUA nessa questão, coisa que afirmaram por muitos anos, mas nesse caso deixaram a chance escapar”.
O especialista tem escutado apreensões por parte da política de que o respaldo americano à Ucrânia possa diminuir após as eleições presidenciais de novembro de 2024, sobretudo se Donald Trump retornar à Casa Branca – algo com que o invasor Vladimir Putin também estará contando.
Contudo “se preocupar não basta”, enfatiza Lange: é preciso a UE acelerar a produção armamentista interna, sobretudo de munições, pois não se deve contar com um fim rápido dessa guerra: mais um motivo por que os militares de Kiev estão ansiosos de poder dar notícias de sucesso.
No início de maio, o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, anunciou o abate de um míssil hipersônico russo Kh-47M2 Kinzhal. A Alemanha, Holanda e EUA haviam fornecido, cada um, um sistema de defesa Patriot à Ucrânia. No entanto não se revelou qual dos três conseguiu derrubar a arma russa até então considerada praticamente imbatível pela defesa ocidental.

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