Tailândia escolhe neste domingo o novo primeiro-ministro após dissolução do Parlamento em março
A Tailândia escolherá o novo primeiro-ministro neste domingo, 14. As eleições foram convocadas às pressas após o premiê Prayut Chan-O-Cha dissolver o Parlamento em 20 de março. Essa é a segunda eleição desde o golpe de Estado de 2014. O pleito será uma disputa entre o impopular Prayut, que chegou ao poder com um golpe militar, e a filha do magnata e ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, o grande inimigo do exército, que permanece politicamente ativo apesar de estar no exílio há mais de uma década. A campanha eleitoral começou de forma não oficial antes mesmo do Parlamento ser dissolvido. Prayut, de 68 anos, que se consolidou como chefe de governo em 2019, após eleições polêmicas, estava no poder por um período relativamente longo para um país com vários golpes de Estado em sua história – uma dúzia desde o fim da monarquia absoluta em 1932. Ele está abalado por um balanço econômico e enfrenta o principal partido da oposição, Pheu Thai. A líder da oposição, Paetongtarn Shinawatra, de 36 anos, é o novo rosto da família bilionária cuja oposição ao exército estrutura a vida política há mais de 20 anos. Seu pai, Thaksin Shinawatra, foi primeiro-ministro entre 2001 e 2006, antes de ser derrubado pelos militares.
Sua tia Yingluck liderou o governo de 2011 a 2014, até o golpe de Estado de Prayut. “Tenho muita esperança em formar um governo”, declarou à imprensa. “Estamos em campanha para conseguir uma ampla vitória, porque uma ampla vitória nos fortalecerá o suficiente para formar um governo”, acrescentou. Shinawatra é apontada como favorita para vencer as eleições. Mesmo durante a gestação – seu filho nasceu no começo de maio – ela continuou fazendo campanha eleitoral. Junto aos dois, que são os primeiros na intenção de votos dos eleitores, concorre também um partido conservador da Tailândia que, na expectativa de melhorar seu posicionamento nas pesquisas e na possibilidade de chegar ao poder, espera conquistar os eleitores com uma proposta para legalizar os brinquedos sexuais, proibidos no país de maioria budista. Apesar de ser o país do sudeste asiático mais liberal em questões sexuais, a Tailândia é bastante conservadora: vibradores, consolos e outros dispositivos íntimos são ilegais. Vender brinquedos sexuais pode resultar em uma pena de até três anos de prisão ou no pagamento de multa de até US$ 1.800, mas os aparelhos são negociados por vendedores ambulantes em alguns distritos de Bangcoc.
“Brinquedos sexuais são úteis porque podem ajudar a reduzir a prostituição infantil, os divórcios devido ao desequilíbrio da libido entre casais e os crimes sexuais”, afirmou a líder do partido, Ratchada Thanadirek, em um comunicado. Ela também destacou que a importação de aparelhos eróticos pode aumentar a arrecadação de impostos. O Partido Democrata é o mais antigo da Tailândia e já ocupou o cargo de primeiro-ministro em quatro ocasiões, a mais recente delas com Abhisit Vejjajiva, que foi chefe de governo de 2008 a 2011. A formação teve um resultado muito ruim nas eleições de 2019 e, no momento, aparece com menos de 10% das intenções de voto nas pesquisas. O partido foi envolvido em um escândalo sexual no ano passado, quando 14 mulheres processaram o ex-líder da legenda, Prinn Panitchpakdi. O político negou as acusações, que continuam sendo investigadas pela justiça. Os tailandeses buscam um representante que seja capaz de resolver os principais problemas que atingem o país, como: emprego, inflação e recuperação do turismo, que foi afetado pela pandemia de Covid-19. Apesar de não ser o epicentro dos desejos, outro tema que se faz presente nessa eleição é o lucrativo negócio da cannabis, um dos assuntos que mais divide os partidos. Em 2022 o cultivo de maconha deixou de ser crime do país.
A população teme que se o Partido Move Forward, liderado pelo empresário de 42 anos Pita Limjaroenrat, chegar ao poder, a legalização passe a ser possível apenas para fins medicinais e não mais para recreação. Em entrevista à ‘Associated Press’, o professor de antropologia na Universidade de Chiang Mai, Pinkaew Laungaramsri, declarou que o fator decisivo nessas eleições poder ser o fato que “as pessoas não estão mais dispostas a tolerar o governo autoritário que está no poder há mais de nove anos, e há um desejo significativo de mudança entre as pessoas”. Ele lembra que o governo de Prayut rejeitou reformas democráticas e processou ativistas. Também em entrevista à agência de notícias, Thitinan Pongsudhirak, professor da Universidade Chulalongkorn de Bangcoc, fala que a eleição deste domingo será “a mais importante na política tailandesa contemporânea, porque é uma eleição que vai determinar o futuro político da Tailândia” e “empurrará as fronteiras da política tailandesa para áreas onde ela precisa ir”. A Constituição de 2017, redigida pela junta militar, obriga o Pheu Thai, que aspira conseguir 310 das 500 cadeiras na Câmara dos Deputados, a conquistar uma maioria esmagadora para governar, o que vários analistas consideram difícil.
*Com informações das agências internacionais