Laparocele: entenda a hérnia no intestino que é a causa da cirurgia do Papa

Última cirurgia do pontífice foi em julho de 2021 quando ele teve uma diverticulite e teve que retirar parte do órgão. Papa Francisco durante entrevista exclusiva para a Associated Press de dentro do Vaticano em 24 de janeiro de 2023
Andrew Medichini/AP
O Papa Francisco, de 86 anos, passará por uma nova cirurgia na tarde desta quarta-feira (7), no hospital Gemelli, em Roma, informou o Vaticano em um comunicado.
Segundo a Santa Sé, a expectativa é que o pontífice fique internado por alguns dias depois do procedimento cirúrgico, que acontece dois anos após Francisco ser submetido a uma cirurgia no intestino grosso.
Há cerca de dois meses, o pontífice também foi internado com um quadro de bronquite infecciosa.
Dessa vez, a cirurgia será para a reparação de uma laparocele, um tipo de hérnia que se forma sob uma cicatriz na região intestinal. Entenda mais abaixo.
O que é a laparocele?
A laparocele encarcerada como a do Papa é nada mais que uma hérnia da parede abdominal que causa o “estrangulamento” da alça do intestino, os segmentos de arco que formam os tubos do órgão.
A médica cirurgiã do aparelho digestivo, Vanessa Prado, explica que a complicação causa uma fraqueza da parede abdominal que resulta numa espécie de “buraco”.
“E aí quando você faz mínimos esforços a alça intestinal pode entrar nesse buraco, ficar presa e não voltar para a cavidade abdominal [região que comporta além do intestino, o fígado, o estômago, entre outros órgãos], o que resulta na urgência cirúrgica”, diz.
Mas qual o problema disso?
Segundo o centro de pesquisas italiano “Humanitas”, em cerca de 10% das incisões cirúrgicas feitas no abdômen, com o tempo, pode haver uma falha da parede músculo-fascial por onde emerge o peritônio, um tecido fino dobrado sobre si mesmo que separa os órgãos internos da parede. Esta condição se manifesta com um inchaço bem característico.
A laparocele geralmente então acontece em casos em que a ferida criada pela cirurgia não fechou perfeitamente e com o tempo abriu-se uma “brecha” de onde emerge o peritônio e, posteriormente, a hérnia.
“E quando essa alça do intestino fica presa nessa hérnia, a gente chama de hérnia encarcerada, que aí não passa sangue, não passa fezes, e dá o quadro que a gente chama de suboclusão intestinal para o paciente”, acrescenta Prado, que é médica do Centro de Especialidades do Aparelho Digestivo do Hospital Nove de Julho, em São Paulo.
Em julho de 2021 o Papa Francisco passou inclusive por uma cirurgia para controlar uma diverticulite. Na ocasião, ele teve que retirar parte do intestino.
“A operação, planejada nos últimos dias pela equipe médica que assiste o Santo Padre, tornou-se necessária devido a uma laparocele encarcerada que está causando síndromes suboclusivas recorrentes, dolorosas e agravadas”, disse o comunicado do Vaticano nesta quarta.
E quais são os principais fatores de risco?
Os fatores que podem favorecer o aparecimento da hérnia incisional são:
idade avançada;
sobrepeso;
obesidade;
infecção prévia de uma ferida operatória;
além do tipo e da extensão da incisão cirúrgica realizada previamente, que pode causar problemas em alguns pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos.
A hérnia incisional, porém, é mais comum quando as incisões são maiores, como o caso do pontífice.
Por que a cirurgia é indicada?
Prado explica que de forma geral, a correção da hérnia de parede abdominal é uma cirurgia simples, diferentemente de quadros onde há esse “estrangulamento” da alça do intestino.
Nesses casos, como há uma alteração do fluxo intestinal -uma suboclusão-, a cirurgia mais indicada é a laparotomia exploradora (justamente o procedimento do pontífice), que abre a região do abdômen, devolve o intestino para região abdominal e fecha esse buraco colocando uma tela para impedir que a alça intestinal volte a ficar presa.
E o quadro pode ser recorrente?
Geralmente não, os quadros de suboclusão não são recorrentes. A cirurgia costuma resolver o problema.
Ou seja, operou, corrigiu e o paciente fica bem.
“Mas claro, dependendo da idade, se é diabético e hipertenso, pode ter complicações, mas a suboclusão não deveria ser um quadro recorrente”, acrescenta a especialista.