Guarujá

Exploradores de cavernas se encantam com cultura do Vale do Ribeira e passam 7 anos registrando vida às margens de rio


Paulo Jolkesky e Ricardo Martinelli lançaram um livro com fotografias que retratam o dia a dia de pessoas que moram às margens do Rio Ribeira de Iguape, único do estado que não tem barragens. A dupla de fotógrafos amadores Paulo Jolkesky, de e Ricardo Martinelli se encantou com a diversidade cultural e riquezas naturais do Vale do Ribeira e documentou o dia a dia da população em fotos.
Ricardo Martinelli e Paulo Jolkesky
A dupla de fotógrafos amadores Paulo Jolkesky, de 51 anos, e Ricardo Martinelli, de 49, se encantou com a diversidade cultural e riquezas naturais do Vale do Ribeira, no interior de São Paulo, após passar grande parte de suas vidas explorando cavernas na região. A curiosidade e a vontade de dar voz às pessoas os levou a documentar em fotos o dia a dia dos moradores que dão vida ao Rio Ribeira de Iguape, único do estado que não tem barragens.
Com 470 km de extensão, o Rio Ribeira de Iguape ainda conserva em suas margens as maiores áreas remanescentes de Mata Atlântica do Brasil, inúmeras nascentes, áreas de grande interesse turístico como os manguezais e as cavernas do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar).
Os fotógrafos registraram o cotidiano às margens do Rio Ribeira de Iguape, no interior de SP.
Projeto Retratos do Ribeira
A ideia do projeto Retratos do Ribeira surgiu durante os anos em que exploraram as cavernas do Petar. Frequentadores da região há cerca de 30 anos, Paulo e Ricardo sempre tiveram contato com os moradores do Alto Ribeira, onde ficam as cidades de Barra do Chapéu, Apiaí, Iporanga, entre outras. “Já conhecíamos toda essa região, mas ainda assim ficamos surpresos”.
Segundo Martinelli, o intuito é mostrar a vida das pessoas do Vale do Ribeira. O fotógrafo amador explica que, na época, via muitos moradores passando necessidades, mas outros viviam com muita alegria. Outro ponto que chamou a atenção da dupla foi a diversidade cultural dos habitantes das margens do rio, como quilombolas, descendentes de bandeirantes, caiçaras, indígenas e descendentes de japoneses.
Quilombo de Ivaporunduva foi um dos ‘alvos’ do documentário em fotografia do cotidiano do Vale do Ribeira.
Ricardo Martinelli
“O Vale tem uma cultura singular. Essa região é conhecida pelas cavernas e pelas plantações de banana, mas eles [os moradores] não têm voz”, explica Paulo.
Antes, a dupla passava seus dias de folga fotografando a natureza e explorando o subterrâneo. Com o início do projeto, eles passaram a enfrentar o desafio que é retratar pessoas. “Quem conta a história dele [o rio] são aqueles que fotografamos, com suas expressões”.
A experiência que a dupla tinha com os locais, durante os anos explorando cavernas, facilitou o trabalho, porém, a tarefa não deixou de ser difícil. Eles tiveram contato, por exemplo, com a aldeia Pindo-ty, em Pariquera-Açú; o Quilombo de Ivaporunduva e Quilombo São Pedro, em Eldorado.
Eles também visitaram populações que vivem às margens do canal Valo Grande, em Iguape; assim como também chegaram ao coração de Katsura, a primeira colônia japonesa do Brasil, que também fica localizada em Iguape. “Queremos mostrar todas essas informações pitorescas do Vale”, afirma Ricardo.
A fotografia foi feita durante a festa de Tooro Nagashi, em Registro, no interior de SP.
Paulo Joelkesky
Populações que vivem às margens do canal Valo Grande, em Iguape, também foram fotografadas pela dupla de amadores.
Paulo Joelkesky
A cada saída de campo a dupla fazia fotografias, mas também aprendia um pouco de cada grupo cultural da região do Vale. Foram horas com o pé na estrada, algumas complexas de se percorrer. Eles utilizaram balsas com risco de cair no rio, chegaram a passar o dia inteiro sem comer, às vezes, somente se alimentando de mexericas e água, tudo isso debaixo de sol e chuva.
Apesar dos desafios, a dupla afirma que a receptividade das pessoas sempre foi “absurda”. Segundo Jolkesky, os moradores os recebiam com a esperança de serem ouvidos. Muitas vezes, para contar as dificuldades que passavam para sobreviver.
Antônio dos Santos Oliveira, trabalhador de bananal em Registro, no interior de SP.
Projeto Retratos do Ribeira
Paulo lembra o momento mais marcante em todos esses sete anos de projeto. Segundo ele, em 2018, a dupla ainda não havia conseguido contato com as aldeias do Vale do Ribeira para registrar o dia a dia deles.
Na época, eles foram chamados para expôr o trabalho deles [ainda em andamento] em uma feira de Iguape. Neste mesmo evento, povos indígenas da região fariam uma apresentação na praça da cidade, por isso, ele conseguiu conversar com alguns caciques, o chefe de uma tribo.
“Eu falei que gostaria de fotografar as pessoas das aldeias para o projeto, eles ficaram meio desconfiados”, afirma. Paulo, então, os convidou a ir até o museu, local da exposição, para ver as fotografias tiradas pela dupla até então.
“Quando eu me dei conta, todas crianças das cinco aldeias vieram conosco.Mostrei as fotos e contei as histórias por trás”, lembra. De acordo com o fotógrafo, os caciques viram a importância do trabalho e afirmou a Jolkesky que queria estar ali também. “Quase 200 pessoas se apaixonaram pela exposição”.
Cacique Renato de aldeia Pindo-ty, em Pariquera-açu, no interior de SP.
Projeto Retratos do Ribeira
Retratos do Ribeira
O livro foi lançado em outubro de 2022 e conta com 366 páginas e 249 imagens. “Depois de muito fluir, o Ribeira encontra a foz. Depois de muito trabalho, o Retratos do Ribeira encontra sua forma”, diz o post publicado nas redes sociais do projeto.
Ele tem o financiamento da Fundação Nacional de Artes (FUNARTE) para o incentivo à cultura, por isso, a dupla tem a missão de levar esse conhecimento às pessoas, divulgar e fazer com que os moradores do Vale do Ribeira tenham acesso à obra.
“É um retrato das pessoas que cruzaram o nosso caminho. Olhar para trás e ver que esse livro se concretizou me traz uma emoção muito grande”, afirma Ricardo.
A foto foi tirada por Ricardo Martinelli durante uma procissão fluvial de Nossa Senhora do Livramento, em Iporanga, no interior de SP.
Ricardo Martinelli
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