Criminoso foi ‘promovido’ em facção após participar de morte de investigador: ‘quanto pior, melhor’, diz delegado
Flávio José Ramos Júnior, conhecido como ‘NK’, foi promovido ao posto de ‘disciplina’ na facção criminosa, ou seja, era encarregado de aplicar um código de conduta aos demais criminosos. Ele está envolvido no assassinato do investigador João Ferreira de Moura Junior, em Santos (SP). ‘NK’ (à esq.) subiu de ‘cargo’ em organização criminosa após participar de assassinato do investigador João Ferreira de Moura Junior (à dir.)
Divulgação/Polícia Civil
Flávio José Ramos Júnior, também conhecido como ‘NK’, teria sido ‘promovido’ para um ‘cargo’ na maior facção criminosa do país após participar do assassinato do investigador João Ferreira de Moura Junior há cinco anos. As informações foram apuradas pelo g1 junto ao delegado Fabiano Barbeiro, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Santos, no litoral de São Paulo.
Segundo Barbeiro, ‘NK’ recentemente ocupava a função de ‘disciplina’ na facção, ou seja, era encarregado de aplicar um código de conduta aos demais criminosos dentro da organização.
O criminoso de 30 anos foi preso (veja o vídeo abaixo) durante a Operação Escudo, deflagrada no litoral paulista após o assassinato do soldado PM da Rota Patrick Bastos Reis, em Guarujá (SP).
“Infelizmente, a ética deles é avessa, ou seja, quanto pior, melhor”, afirmou o delegado, sobre as ‘promoções’ de bandidos nas facções criminosas.
Vídeo mostra operação que prendeu homem envolvido em morte de policial
‘NK’, o crime e a facção
De acordo com o delegado, ‘NK’ não possuía um histórico criminal considerado extenso até o ano de 2018, quando o investigador João Ferreira foi morto. Barbeiro acrescentou que, a partir daquele momento, o criminoso ingressou na facção, voltando-se para o tráfico de drogas.
“Além de ter ganhado uma posição dentro da organização criminosa, na função de ‘disciplina’, também era o responsável em gerir o tráfico de drogas na região em que morava [bairro São Manoel]”, explicou o delegado, sobre ‘NK’. “Ele tinha a palavra final”, complementou.
Flávio José Ramos Júnior, de 30 anos, conhecido como NK, é apontado como um dos responsáveis pelo assassinato do investigador João Ferreira de Moura Junior (à direita)
GOE/Divulgação e Reprodução/Sinpolsan
O investigador foi abordado por três bandidos quando saía da casa da namorada, no bairro Jabaquara, em Santos (SP). Ele foi atingido por um tiro na cabeça e chegou a ser socorrido, mas teve morte cerebral declarada um dia depois do atentado.
Na época, por meio de provas periciais, a Polícia Civil conseguiu identificar e comprovar a participação de NK e Cícero Santana Júnior, que já foi condenado (veja mais adiante). Desde então, NK estava foragido.
Prisão de ‘NK’
O criminoso foi preso na última segunda-feira (29). O g1 apurou que, durante a abordagem policial, ele apontou uma arma para os agentes, dando início a uma troca de tiros. ‘NK’ foi baleado na perna, precisou passar por cirurgia e passa bem.
A delegada assistente da Delegacia Seccional de Santos, Lígia Christina Vilella, disse que a área de risco onde o criminoso mora foi um dos fatores que atrapalharam a captura durante esses cinco anos.
“Desde 2018, estamos em busca do NK. Tivemos uma tentativa não bem sucedida, em 2021, em razão de uma fuga do NK […]. É com muita felicidade que hoje se faz Justiça ao policial Junior”, afirmou a delegada.
Flávio José Ramos Júnior, de 30 anos, foi baleado na perna, precisou passar por cirurgia e passa bem
Polícia Civil/Divulgação
Durante o cumprimento do mandado, os policiais apreenderam uma arma de fogo, um rádio comunicador e drogas abandonadas em um ponto de tráfico, que seria comandado pelo criminoso.
Além do assassinato do investigador, Barbeiro afirmou que agora ‘NK’ também responderá por tentativa de homicídio, já que trocou tiros com os policiais, nesta segunda-feira (28). De acordo com o delegado, o criminoso deve pegar de 12 a 20 anos de prisão.
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Outro envolvido
Além de NK, a Polícia Civil também comprovou a participação de Cícero Santana Júnior no crime. A delegada afirmou que foram apenas dois envolvidos, o que inocenta Adilson Pinto Junior, que chegou a ser preso pelo homicídio.
Santana foi preso no dia 29 de março de 2019, em Santos. O julgamento precisou ser adiado mais de uma vez por causa da pandemia, sendo realizado em 2021, quando foi condenado a 21 anos de prisão.
O g1 entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) para mais informações sobre Adilson, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Relembre o caso
João Ferreira de Moura Junior, de 48 anos, foi abordado pelos bandidos quando saía da casa da namorada, no bairro Jabaquara, no dia 28 de fevereiro de 2018. Ele foi atingido por um tiro na cabeça, e estava deitado no banco de um carro quando foi encontrado por policiais militares.
No dia do crime, em depoimento à polícia, a namorada disse que ele havia saído de sua casa há aproximadamente 10 minutos. A mãe dela, sogra do policial, foi quem ouviu os tiros.
O investigador chegou a ser socorrido com vida, mas teve morte cerebral declarada um dia após o crime, no dia 1º de março de 2018. Conforme divulgado na época, ele estava internado na Santa Casa e a família optou pela doação de órgãos.
Operação Escudo
Com o reforço de cerca de 600 homens de todos os batalhões do Estado, a Operação teve início em 28 de julho, após assassinato do soldado PM da Rota Patrick Bastos Reis, que fazia patrulhamento pela Vila Julia, em Guarujá, quando foi atingido por um disparo feito a mais de 50 metros.
Reis e outro policial, que também foi baleado, faziam patrulhamento pela Operação Impacto Litoral, desencadeada em junho para combater os altos índices de criminalidade e a forte incidência do tráfico de drogas naquela região.
Logo nos primeiros dias de operação, as forças de segurança conseguiram identificar e prender todos os envolvidos na morte do policial. Mesmo após a prisão dos envolvidos, a operação seguiu com o objetivo de sufocar o tráfico.
A SSP-SP informou que até sexta-feira (25) 22 mortes foram registradas decorrentes de intervenção policial durante a Operação Escudo são investigadas pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Santos e em Inquérito Policial Militar. Além disso, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa mobilizou policiais civis e técnico-científicos para dar apoio às investigações.
De acordo com a SSP-SP, em 30 dias, foram presas 634 pessoas. Destas, 240 eram foragidas da Justiça pelos mais diversos crimes, desde falta de pagamento de pensão até roubo à mão armada, sequestro e homicídio. Entre os presos em flagrante e os que eram procurados estão criminosos com várias passagens policiais, líderes de facção e traficantes.
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