Guarujá

Entregador morto com tiro na cabeça gravou áudio temendo pela vida antes de assalto: ‘estou correndo risco’; OUÇA


Áudio mostra preocupação de Sérgio Murilo Pereira com a própria segurança durante o trabalho. O entregador morreu após ser baleado na cabeça durante uma tentativa de assalto em São Vicente, no litoral de São Paulo. Entregador morto com tiro na cabeça gravou áudio temendo pela vida antes de assalto
O entregador Sérgio Murilo Pereira, morto aos 53 anos baleado na cabeça ao atropelar um criminoso durante uma tentativa de assalto em São Vicente, no litoral de São Paulo, gravou um áudio temendo pela própria segurança durante o expediente dias antes do crime. No conteúdo, obtido pelo g1 nesta quinta-feira (14), a vítima afirma que está “correndo risco”, com o carro e a vida dela (ouça acima).
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O caso aconteceu em fevereiro deste ano e, aproximadamente dez meses depois, a Justiça do Trabalho condenou os Correios e uma empresa terceirizada em R$ 900 mil, por danos materiais e morais. O valor será destinado à esposa de Sérgio.
Conforme divulgado pela Polícia Civil à época, o entregador estava trabalhando quando foi abordado por dois homens, que se posicionaram em frente ao veículo. Ele atropelou um dos criminosos, que atirou em Sérgio. O entregador foi atingido na cabeça e morreu.
O g1 teve acesso ao áudio que foi anexado ao processo movido pela viúva contra as empresas. No conteúdo, o entregador reclama sobre a falta de segurança durante o trabalho. O profissional relatou, inclusive, ter sido assaltado no Natal de 2022 e sofrido uma abordagem no Ano Novo.
“Sempre falaram que os Correios não entram em área de risco, mas eu entro em uma favela que você não quer nem ver a situação”, desabafou Sérgio. “Ninguém quer fazer o serviço. O carro deles [Correios] não entra, mas o meu entra (…). Estou correndo risco, com o meu carro e a minha vida”.
‘Tragédia anunciada’
Segundo o advogado Alexandre Correia, que representa a esposa da vítima no caso, o áudio de Sérgio foi o “presságio de uma tragédia anunciada”.
O advogado acrescentou que as queixas do entregador eram constantes à empresa terceirizada. “Desde a falta de segurança até ele implorando pelo registro em CLT”, complementou.
“Ele questionava a falta de zelo dos próprios Correios e a área em que fazia o serviço. Ele já alertava a empresa [terceirizada] há muito tempo”, explicou o advogado.
Entregador leva tiro na cabeça e morre após atropelar criminoso em tentativa de assalto
Condenação
A decisão sobre a indenização foi tomada pela juíza Silvana Cristina Ferreira de Paula, da 2ª Vara do Trabalho de São Vicente. A sentença foi anunciada neste mês. No documento, obtido pelo g1, a magistrada decidiu que o valor da indenização seja destinado à viúva do entregador, Suely Vitorino.
Ainda de acordo com o advogado Alexandre Correia, os Correios contrataram uma empresa terceirizada para ajudar nas entregas. “Foi uma terceirização irregular e, ainda por cima, ele [Sérgio] não tinha registro. Este só foi reconhecido pela companhia [terceirizada] depois da morte”, explicou.
Segundo o advogado, a Justiça entendeu que há responsabilidade sobre a empresa terceirizada, por conta do registro e vínculo, assim como sobre os Correios. “Ele se apresentava como funcionário dos Correios para a entrega”, complementou.
Sérgio (foto) acelerou contra o criminoso e foi morto com um tiro na cabeça
reprodução
Correios
Ao g1, os Correios informaram, por meio de nota, lamentar o ocorrido. Além disso, a companhia afirmou que “segue prestando o suporte necessário”. Sobre a decisão judicial, os Correios afirmaram que, no momento, estão avaliando a sentença e aguardam a intimação.
“A contratação do terceirizado não era irregular e estava de acordo com a legislação, atualizada pela Lei nº 13.467/2017, Lei nº 13.429/2017 e pelo Decreto nº 9.507/2018. Hoje, não há impedimento para a terceirização da atividade fim no âmbito dos Correios, inclusive entregas”, complementou, em nota.
O g1 também tentou localizar a empresa terceirizada, em busca de um posicionamento sobre a decisão judicial, mas não obteve um retorno até a última atualização desta reportagem.
Viúva perdeu o ‘herói’ dela
Sérgio, que foi morto com um tiro na cabeça em uma tentativa de assalto, era considerado um herói para a esposa
Arquivo pessoal
À reportagem, Suely contou, ainda no mês da morte do marido, que ele havia sido sofrido assaltos em sequência antes de ser morto durante o trabalho.
“Foi ceifado da vida. Em 40 dias, ele sofreu três ataques de assalto. No primeiro, ninguém fez nada com ele, mas levaram toda mercadoria”, disse ela, em fevereiro. “No segundo, houve uma tentativa, ele percebeu e fugiu. No terceiro, esses cinco elementos pegaram ele de surpresa [e ele morreu]”.
A mulher acrescentou à época que, após as duas tentativas, Sérgio estava “apavorado”, mas trabalhava pois precisava sustentar a casa. “Saía rezando porque sabia que estava em risco”, complementou.
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