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Anatel considera ‘indesejável e imprudente’ construção de usina no Ceará por riscos à internet no Brasil; entenda o caso


A Superintendência do Patrimônio da União (SPU-CE) aprovou as obras da usina na Praia do Futuro, em Fortaleza (CE). Agência Nacional de Telecomunicações alega que cabos submarinos de internet que ligam Brasil ao resto do mundo podem ser rompidos caso o projeto avance. Cabo submarino EllaLink que chega a Portugal (foto) faz parada em Fortaleza
Divulgação/EllaLink
O projeto da usina de dessalinização na Praia do Futuro, em Fortaleza (CE), voltou a gerar polêmica nesta semana após a Superintendência do Patrimônio da União (SPU-CE) aprovar as obras na última quarta-feira (20).
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e as operadoras de internet questionam a obra por entenderem que ela pode romper cabos submarinos que passam pela capital cearense e impactar o serviço de internet no Brasil.
A Anatel classifica a construção da usina como “indesejável e imprudente” e alega que “existem outras opções para a sua realização”.
O órgão afirma ainda que o projeto da SPE – Águas de Fortaleza, responsável pela construção, não considerou riscos e nem seguiu 11 recomendações do International Cable Protection Committee (ICPC), organização que atua para proteger o funcionamento de cabos submarinos.
O g1 perguntou à Anatel e ao ICPC quais são as recomendações, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.
Caso siga sem interferências, o projeto da usina deverá iniciar obras em março de 2024. A previsão é de que a construção seja concluída no primeiro semestre de 2026. Segundo o governo do Ceará, a oferta de água na região metropolitana de Fortaleza aumentará em 12% com a transformação de água do mar em água potável.
União autoriza construção de usina próximo a cabos de internet no mar de Fortaleza
Os riscos apontados pela Anatel
A Anatel diz que “reitera oposição à obra de construção da usina de dessalinização na Praia do Futuro nos termos do atual projeto, e recomenda alteração do projeto de construção para outro local dentre as opções avaliadas como possíveis”.
Estes são os pontos citados pela Anatel para reprovação da obra:
???? Os cabos submarinos que chegam à Praia do Futuro são essenciais para o funcionamento das telecomunicações e da conexão de internet no Brasil e para o fluxo internacional de informações;
???? Os cabos de internet estão ancorados há décadas na região, “desde antes da privatização do setor de telecomunicações”;
???? Falhas nos cabos exigem provocam danos e exigem reparos que têm “atividade lenta e complexa”, além de exigir o uso de navios de grande porte, equipamentos subaquáticos e mergulhadores: “A adição de riscos, portanto, é indesejável e imprudente”, diz a agência;
???? Os cabos tem prazo de validade e, com o aumento constante no tráfego de internet, a tendência é que seja preciso substituir ou incluir mais cabos na região;
???? Os responsáveis pela usina não apresentaram “qualquer estudo, previsão, planejamento e detalhamento das medidas que serão adotadas para garantir que os dutos terrestres da usina não provocarão interferências nos cabos”.
Na quinta-feira (21), a Anatel afirmou ao Jornal Nacional que pediu mais detalhes da obra ao governo do Ceará. O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos disse que a construção segue em análise da União e que depende da avaliação de outros órgãos federais.
Fortaleza é o ponto central dos cabos que abastecem a internet no Brasil
Globo/Reprodução
A importância de Fortaleza para a internet brasileira
A capital cearense se tornou chave para a conexão de cabos de internet por sua proximidade relativa com a Europa, a África e o restante das Américas. No Brasil, eles também se ligam a Salvador, ao Rio de Janeiro e a Santos. A cidade também ganhou espaço pelas condições de seu relevo oceânico.
“No assoalho oceânico, tem rochas, correntes submarinas, regiões mais profundas e outras mais planas. O assoalho de Fortaleza é favorável. De certa forma, está unindo o útil e o agradável: boa localização e bom assoalho”, explicou ao g1 o professor de Engenharia da Computação na Universidade Federal do Ceará (UFC) Yuri Victor Lima de Melo.
Outro fator que contribui para a importância de Fortaleza na área é a presença de grandes empresas de telecomunicações. “O mercado local de internet no Ceará é muito pujante. No top 10 de maiores provedores de internet do Brasil, tem empresas cearenses ao lado de multinacionais”, explica o diretor de tecnologia da empresa de telecomunicações Sage Networks, Thiago Ayub.
Cabos submarinos de internet que passam por Fortaleza
Reprodução/Submarine Cable Map
O que dizem os outros órgãos
A Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) diz que a usina “não apresenta nenhum risco ao funcionamento dos cabos submarinos localizados na Praia do Futuro”.
Em outubro, a associação de operadoras TelComp, que inclui empresas como a cearense Brisanet, já havia afirmado que “a discussão sobre a construção da usina é legítima e a implementação de tal política pública é necessária”, mas alegou que “existem locais mais adequados e seguros para sua instalação” e que a escolha pela construção na Praia do Futuro é “infeliz, inoportuna e inapropriada”.
A Conexis, associação onde estão operadoras Claro, Vivo, Tim, Oi, Algar Telecom e Sercomtel, afirma que suas associadas “manifestam preocupação com os riscos apontados pela área técnica da Anatel.
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