Economia

Camisa da seleção a R$ 899? ‘Inflação do torcedor’ tem amarelinha e cerveja mais cara, mas carne mais barata


Marcos Milan, professor da FIA Business School, levantou preços de itens cujo consumo cresce em períodos de jogos da seleção. Nike e CBF relançam o uniforme da seleção brasileira de 1998.
Divulgação/Nike
O relançamento de uma camisa da seleção brasileira, usada durante a Copa do Mundo de 1998, movimentou as redes sociais dias antes da estreia do Brasil na Copa América, na semana passada.
A edição histórica da Nike era muito esperada pelo torcedor, mas o grande destaque deixou de ser o modelo. A camisa custa “salgados” R$ 899.
Há parcelamento em até oito vezes, conforme anúncio no site da marca esportiva. No PIX, tem desconto: R$ 854,99.
“Isso foi uma das maiores sacanagens que eu já vi”, escreveu um torcedor na rede social X. “900 reais numa camisa da seleção em um país onde a maioria que acompanha o futebol mal recebe 1.400 por mês”, comparou outra internauta.
Procurada pelo g1, a Nike não comentou sobre o tema até a última atualização desta reportagem.
Os modelos das camisas atuais da seleção brasileira custam cerca de R$ 350 na versão para torcedor e mais de R$ 600 na versão “jogador”. Mas torcer pela seleção está realmente mais caro?
Um levantamento feito pelo professor Marcos Milan, da FIA Business School, mostra que alguns dos itens mais consumidos durante jogos da seleção tiveram alta de dois dígitos desde 2021, ano da última edição da Copa América.
Os avanços nos preços vão do álbum de figurinhas, com alta de 25%, à camisa canarinho, que em suas versões tradicionais teve aumento de 16% no período.
Por outro lado, os custos de dois itens importantes para os brasileiros recuaram de lá para cá: a tradicional carne do churrasco (-1,51%) e o televisor (-2,17%).
Para efeito de comparação, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, chegou a 24,57% nos últimos três anos. Isso significa que boa parte dos itens ficaram abaixo da inflação oficial acumulada desde a última Copa América.
Veja abaixo:

Churrasco mais barato — em partes
Apesar da queda no preço da carne, bebidas tradicionalmente consumidas no churrasco do brasileiro tiveram alta acima da inflação desde 2021. É o caso do refrigerante e da cerveja no domicílio, cujos preços avançaram 29,54% e 26%, respectivamente.
O professor Marcos Milan, da FIA, destaca que a inflação acumulada no período é resultado de dois fatores bastante específicos: os resquícios da pandemia de Covid-19 e as eleições presidenciais de 2022.
“A pandemia causou um aumento bastante expressivo no consumo de itens em casa, impactando diretamente o consumo de cerveja, água e refrigerante em domicílio”, explica. “Em anos eleitorais, a inflação também tende a ser mais elevada.”
Milan também destaca que a variação de preços dos itens analisados passou a desacelerar a partir de 2023. Principal item do churrasco, a carne apresentou queda de 11,8% de janeiro de 2023 até maio de 2024.
“Enquanto isso, a aquisição de novos aparelhos de televisão tem acumulado queda desde 2022. Para o período de janeiro de 2023 a maio de 2024, a queda é de 12,75%”, pontua.
O professor também destaca o aumento do modelo tradicional da camisa da seleção brasileira — excluindo o relançamento da edição da Copa de 1998.
“O novo modelo lançado pela Nike custa R$ 349,90, uma alta de mais de 16% em relação aos R$ 299,90 do modelo anterior”, conclui.
Nova camisa da seleção brasileira, lançada em 2023.
Divulgação/Nike
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