Economia

Ações da Tupperware afundam após notícia de que empresa pode pedir falência


NYSE indicou preocupações regulatórias com a companhia e interrompeu as negociações nesta terça-feira. Empresa já havia indicado risco e dificuldades na operação no ano passado. Tupperware, empresa fabricante dos famosos potes, informou que enfrenta dificuldades financeiras
Garrett Cheen/AP
A Bolsa de Valores de Nova York (NYSE, na sigla em inglês) interrompeu a negociação das ações da Tupperware Brands, fabricante dos famosos potes de plástico, na manhã desta terça-feira (17), por preocupações com a situação regulatória da companhia.
A decisão veio após os papéis da empresa registrarem uma queda de mais de 57% na véspera, conforme investidores repercutiam a notícia de que a companhia se prepara para pedir falência ainda esta semana, divulgada pela agência Bloomberg.
Segundo as informações, a marca planeja entrar com uma proteção judicial, após ter violado os termos de sua dívida e ter contratado consultores jurídicos e financeiros. Ainda de acordo com a Bloomberg, os planos não são definitivos e ainda podem mudar.
O possível pedido de falência da companhia vem na esteira de uma extensa negociação entre a Tupperware Brands e seus credores sobre uma dívida de mais de US$ 700 milhões (aproximadamente R$ 3,86 bilhões).
Entenda abaixo o que aconteceu com a empresa e um pouco de sua história.
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Problemas de crédito
Os problemas financeiros da Tupperware não são de agora: há anos a empresa alerta sobre sua dificuldade em continuar com suas atividades.
No ano passado, por exemplo, a empresa emitiu um comunicado informando que existem “dúvidas substanciais” sobre sua capacidade de continuar operando, indicando que já enfrentava dificuldades financeiras que, caso não fossem resolvidas, poderiam levá-la à falência.
À época, a empresa informou que poderia deixar de cumprir cláusulas de contratos de crédito. Isso porque emendas estabelecidas ao contrato inicial tiraram a liquidez do caixa da empresa no curto prazo.
Simplificando: a Tupperware fechou três contratos de crédito que foram firmados com credores em novembro de 2021:
uma linha de crédito rotativo com garantias, de US$ 220 milhões;
um empréstimo a prazo, de US$ 400 milhões;
outro empréstimo a prazo de US$ 200 milhões.
Todos os financiamentos tinham vencimento em julho de 2025. Acontece que os contratos foram revistos no início de 2023, de maneira que parte do crédito rotativo foi convertida em um empréstimo a prazo de US$ 200 milhões (R$ 1,1 bilhão). Assim, os recursos disponíveis para tomada nessa linha rotativa foram reduzidos.
A empresa ainda explicou que a novidade no contrato também estabelecia juros progressivos ao longo do tempo para os créditos tomados pela empresa. Estava prevista a possibilidade de um adicional de 4,75 pontos percentuais (p.p.) a depender do índice de alavancagem da companhia — a alavancagem é um indicador que mostra o quanto a empresa depende de capital de terceiros para manter sua operação.
Com o caixa apertado e perspectiva ruim com o cenário econômico desafiador, a empresa sinalizou que pode descumprir as cláusulas, o que a tornaria inadimplente. A inadimplência confere ao credor a possibilidade de exigir o reembolso dos empréstimos pendentes e restringir futuras concessões de recursos.
“Se a exigência de reembolso ocorrer, a companhia não dispõe de recursos financeiros para saldar tais obrigações. A companhia ainda depende dos recursos para financiar suas operações e cumprir com demais obrigações”, disse a empresa no comunicado.
Plano de reestruturação
Diante desse cenário, a empresa formulou um plano de reestruturação de negócios, indicando que contratou consultores financeiros e que participava de discussões com potenciais investidores para encontrar um financiamento e seguir com as atividades.
Além disso, a empresa ainda havia informado que estaria “revisando seu portfólio de imóveis” e avaliando possíveis vendas, alienações ou arrendamentos (quando a empresa cede o direito de uso do imóvel por um determinado período), como forma de tentar monetizar seus ativos.
Caso a companhia não conseguisse negociar com credores ou caso não obtivesse os recursos suficientes para manter suas operações, a empresa também já havia afirmado que precisaria “modificar suas operações e reduzir os gastos a um nível sustentável”.
Na tentativa de dar a volta por cima, ainda no ano passado, a empresa chegou a substituir a presidência da companhia e vários membros do conselho de administração. Em junho deste ano, chegou a fazer planos para fechar sua única fábrica nos Estados Unidos e demitir quase 150 funcionários.
Notificação da NYSE
Em meio aos problemas financeiros, a empresa havia recebido, no ano passado, uma notificação da NYSE, indicando que a companhia não está em conformidade com as normas de listagem e que poderia ter o seu registro cancelado na Bolsa de Valores de Nova York.
Isso aconteceu porque a empresa deixou de publicar seu relatório anual referente ao ano de 2022 junto à SEC (Comissão de Valores Mobiliários norte-americana).
Em abril deste ano, a empresa recebeu uma nova notificação da NYSE por também ter atrasado o arquivamento de suas demonstrações financeiras de 2023.
A história da companhia
A história da companhia começa há mais de 50 anos, quando o químico e empresário Earl Tupper decidiu criar moldes com vedação hermética para recipientes de armazenamento de plástico.
Mas a história da companhia só mudou realmente quando o empresário conheceu Brownie Wise, uma ex-representante de vendas que criou um sistema de marketing chamado “planos de festas”, onde mulheres convidavam amigas e vizinhas e faziam uma combinação de evento social e apresentação de vendas.
Com isso, nasceram as demonstrações conhecidas como “Reuniões Tupperware®”, onde as consultoras da companhia mostravam e ensinavam suas clientes a utilizar os produtos. No Brasil, a empresa chegou em 1976.
Atualmente, os recipientes vendidos por aqui são produzidos em uma fábrica no Rio de Janeiro.

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