A leucemia que não deve te assustar: a leucemia mielóide crônica
O diagnóstico de uma leucemia geralmente desperta sentimentos de medo, incertezas e grande preocupação. No entanto, é importante compreender que existem diferentes tipos de leucemias, e nem todas apresentam um curso rápido que ameace a vida. A principal distinção a ser feita é entre as leucemias agudas e as crônicas. As leucemias agudas têm uma evolução rápida e exigem diagnóstico e início de tratamento imediato. O transplante de medula óssea é comumente aplicado durante o tratamento das leucemias agudas. Por outro lado, as leucemias crônicas são diferentes.
Nesse caso, a evolução natural da doença, como o próprio nome indica, é mais lenta, e muitas vezes o diagnóstico ocorre por meio de um achado incidental em exames. Por exemplo, a leucemia crônica pode ser inicialmente suspeitada em exames de check-up, pré-operatórios ou de rotina, quando se observa no hemograma um número elevado de glóbulos brancos, também conhecidos como leucócitos.
Existem dois tipos principais de leucemias crônicas: a leucemia mieloide crônica e a leucemia linfocítica crônica. A principal diferença entre elas está no tipo de célula envolvida. A seguir alguns conceitos importantes na Leucemia Mieloide Crônica.
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Quais são os sinais e sintomas iniciais que levam à suspeita de Leucemia Mieloide Crônica (LMC)?
A LMC é um tipo de câncer hematológico causado por uma alteração genética nas células mieloides imaturas, que dão origem aos glóbulos vermelhos, plaquetas e à maioria dos glóbulos brancos, exceto os linfócitos. Um dos principais sinais da LMC é o aumento de células granulocíticas no hemograma, ou seja, aquelas que não são linfócitos. Embora existam causas mais comuns para o aumento dessas células, como infecções e doenças inflamatórias, quando se detecta um aumento dos granulócitos (ou neutrófilos) sem evidências de infecção ou inflamação, deve-se suspeitar de LMC. A maioria dos pacientes é assintomática, mas pode apresentar sintomas inespecíficos como fadiga, fraqueza, perda de apetite, febre, sudorese noturna e sensação de saciedade devido ao aumento do baço, entre outros.
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O que causa a LMC?
A LMC é causada por uma alteração genética que ocorre nas células do sangue. Essa mudança envolve dois pedaços de material genético que “trocam de lugar” entre os cromossomos 9 e 22, formando o chamado Cromossomo Filadélfia. Essa troca de material cria um gene anormal, chamado BCR-ABL, que começa a produzir uma proteína que faz as células do sangue
crescerem e se dividirem de forma descontrolada. Esse crescimento exagerado das células leva ao desenvolvimento da leucemia. A proteína resultante da fusão do BCR-ABL é utilizada não apenas no diagnóstico da LMC, mas também no seu acompanhamento ao longo do tratamento. É importante lembrar que essa alteração genética não é herdada dos pais, mas ocorre ao longo da vida. A causa exata dessa mutação geralmente é desconhecida, embora alguns fatores, como exposição a grandes quantidades de radiação, possam aumentar o risco.
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Como a LMC é tratada?
O tratamento mais comum para a LMC é feito com medicamentos chamados inibidores de tirosina quinase (ITKs). Esses medicamentos são administrados em comprimidos que o paciente toma diariamente. Eles atuam bloqueando a proteína anormal BCR-ABL, que é responsável pelo crescimento descontrolado das células sanguíneas. Esses medicamentos são altamente eficazes e podem manter a doença sob controle por muitos anos. Na maioria dos casos, os pacientes precisam continuar tomando esses comprimidos por toda a vida para evitar a recorrência da doença.
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Qual o prognóstico na LMC?
O prognóstico da LMC melhorou significativamente nos últimos anos, especialmente com o uso dos ITKs. Com o tratamento adequado, a maioria das pessoas com LMC pode viver muitos anos com a doença controlada. Muitos pacientes chegam a ter uma expectativa de vida próxima à de pessoas sem a doença, desde que sigam o tratamento corretamente.
A resposta ao tratamento com ITKs é um dos fatores mais importantes para o prognóstico. Se os níveis do gene BCR-ABL caem significativamente nos primeiros meses, o prognóstico costuma ser muito favorável. Pacientes que atingem uma resposta profunda têm um menor risco de progressão da doença. Em alguns casos, após muitos anos de controle eficaz da doença, a terapia pode ser descontinuada com sucesso.
Dessa forma, o diagnóstico da LMC não deve assustar na maioria dos casos, pois se refere a uma doença tratável com um prognóstico favorável. Existem formas bem menos comuns que podem ter um prognóstico menos positivo, mas essas são exceções. Na minha época como estudante de medicina, a LMC era tratada com transplante de medula óssea, um tratamento que hoje é raramente utilizado, graças às terapias medicamentosas altamente eficazes disponíveis atualmente
*Por Dr. Phillip Scheinberg – CRM – 87.226
Médico Hematologista
Chefe de Hematologia da Beneficência Portuguesa de São Paulo