Estudo destaca ação de turistas em poluição de praia do litoral de SP; entenda
Pesquisa foi feita pelo IMar-Unifesp em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente em Guarujá (SP). O objetivo foi compreender as fontes de contaminação da Praia do Perequê. praia do Perequê, em Guarujá, no litoral de SP
Divulgação/Prefeitura de Guarujá
Pesquisadores do Instituto do Mar (IMar) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) encontraram altos níveis de contaminação na Praia do Perequê, em Guarujá (SP), com predominância de plásticos e bitucas de cigarro. Os dados mostram que o lixo achado na praia é, na maioria, resultado das atividades turísticas.
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O estudo foi uma parceria do IMar-Unifesp com a Secretaria do Meio Ambiente em Guarujá. O objetivo era compreender as fontes de contaminação da praia, que faz parte de uma Área de Proteção Ambiental (APA Marinha Litoral Centro). Os resultados foram publicados no Marine Pollution Bulletin.
De acordo com o professor do IMar-Unifesp e coordenador do estudo, Ítalo Braga de Castro, para se chegar ao resultado, foram usadas ferramentas empregues mundialmente para monitorar lixo em praias, como o programa Ospar — um tratado que envolve 15 países e a União Europeia, que é focado na proteção dos ecossistemas marinhos e no uso sustentável dos recursos.
O programa Ospar aborda, por exemplo, a redução da poluição, a conservação de habitats e espécies ameaçadas, e a gestão sustentável das atividades pesqueiras.
Coletas para análises
Sob a supervisão de Ítalo, os estudantes realizaram as coletas no inverno e no verão, em 2022 e 2023, em fins de semana e dias úteis. O grupo delimitou 10 pontos na Praia do Perequê, sendo cinco na parte molhada e os demais na parte seca.
Foi delimitada uma área de 100 m² e todos os detritos com mais de 3 centímetros encontrados foram recolhidos e armazenados. Posteriormente, os pesquisadores os classificaram como plástico, metal, vidro, papel/papelão, roupa/têxtil, madeira, bitucas de cigarro e outros.
“Lá foram 10 áreas com uma metragem quadrada conhecida e aí você coleta todo o resíduo, faz a contagem, faz a categorização e consegue, a partir disso, obter vários índices de limpeza de praia”, explicou o professor.
O estudo foi solicitado pela Secretaria de Meio Ambiente de Guarujá para identificar o que estaria contribuindo para a poluição da Praia do Perequê. “Antes de tomar uma decisão, uma ação de política pública, eles (prefeitura) queriam entender exatamente o que estava acontecendo”, disse o professor.
Levantamento
Comunidade protegida por lei, praia de Guarujá (SP) é ameaçada por lixo deixado por banhistas
Ítalo Braga
Ítalo explicou que o lixo no mar pode ter origem da própria água, das pessoas que usam a praia, dos moradores e também dos turistas. Segundo ele, o estudo realizado vai permitir identificar “qual dos atores estava majoritariamente envolvido na contaminação”.
“A gente viu que a maior parte do lixo vem do usuário, porque quase nada foi achado na parte úmida da praia. Depois nós fizemos campanhas de amostragem focando em dias de semana, em finais de semana e também focando em alta e em baixas temporadas”, disse.
O estudo, segundo ele, mostrou que a maior quantidade de lixo presente na Praia do Perequê era vista aos finais de semana e nos períodos de alta temporada, o que sugere, fortemente, que o autor prioritariamente envolvido na contaminação é o turista e não o morador local.
Tomada de decisão
O pesquisador disse que, com esses dados, o gestor público, secretário de meio ambiente e prefeito podem tomar uma decisão focada em quem está causando o problema. Antes do artigo ser publicado na revista internacional, um relatório foi disponibilizado à prefeitura.
“Esse relatório foi disponibilizado e nele há, inclusive, sugestões entre várias possibilidades de ações que possam ser tomadas para minimizar o problema”, disse.
Ítalo afirmou que o plástico foi um dos itens mais encontrados poluindo a praia. Além disso, também foram achados alguns resíduos perigosos, que podem causar risco à saúde, como a bituca de cigarro, que está neste grupo por causa das substâncias tóxicas.
“Mas também [haviam] itens perfurocortantes, como vidro e metais”, disse. O estudo contou com recursos disponibilizados pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) a partir de verbas de multas ambientais.
Balanço da coleta
Foram coletados 2.579 itens em uma área de 4 mil metros quadrados ao longo da pesquisa, entre 2022 e 2023. O resultado caracteriza a Praia do Perequê como ‘suja’, de acordo com os padrões do Clean-Coast Index – método, publicado em 2007 e usado em estudos semelhantes.
Itens pesados, como cacos de cerâmica e concreto, que não podem ser carregados pelo vento ou pelas marés, foram mais encontrados na parte molhada da praia. Além disso, os pesquisadores recolheram 603 bitucas de cigarro.
O que diz a Prefeitura?
Praia do Perequê, em Guarujá (SP)
Rogério Soares/Arquivo/A Tribuna Jornal
Em nota, a Prefeitura de Guarujá informou que o estudo integra um pacote de 35 pesquisas e projetos propostos pela administração municipal e desenvolvidos junto a universidades nos últimos sete anos e meio, em parcerias diretas firmadas por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Segurança Climática (Semam).
A administração municipal afirmou entender que a ciência é pilar fundamental para o investimento em novas políticas públicas e pondera que, com a conclusão dos resultados deste levantamento, o foco será analisar e estabelecer soluções para mitigar o descarte irregular de resíduos na Praia do Perequê.
No local, são realizadas iniciativas de combate à poluição, como os projetos ‘Nossos Mares’ e ‘Mar sem Lixo’, idealizados pela entidade S.O.S. Rio do Peixe e a Fundação Florestal, que incentivam os pescadores artesanais sobre o destino adequado dos resíduos recolhidos acidentalmente nas redes de arrasto.
Ainda de acordo com a prefeitura, são desenvolvidos o programa ‘Reciclou, Ganhou!’, que já retirou mais de 100 toneladas de plástico das ruas, por meio de Eco Lojas encarregadas de trocar o reciclável por produtos como alimentos e brinquedos.
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