Meio ambiente, migração, comércio e diplomacia: efeitos do êxito de Trump, segundo analistas
Candidato republicano derrotou a democrata Kamala Harris. Na campanha, Lula manifestou apoio a Kamala; nesta quarta, reconheceu vitória de Trump, pregou diálogo e união. Trump durante comício em 24 de outubro de 2024
Carlos Barria/Reuters
Especialistas ouvidos nesta quarta-feira (6) pela GloboNews afirmam que a vitória de Donald Trump como novo presidente dos Estados Unidos pode ter consequências diretas para o Brasil em diversas áreas, como meio ambiente, migração, comércio bilateral e também na diplomacia.
Filiado ao Partido Republicano e presidente do país de 2017 a 2020, Donald Trump derrotou a candidata do Partido Democrata e atual vice-presidente americana, Kamala Harris. Com isso, assumirá a Casa Branca em janeiro de 2025.
Ainda durante a campanha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou apoio a Kamala Harris. Após a confirmação da vitória de Trump, Lula parabenizou o republicano, afirmando que o mundo precisa de mais diálogo e trabalho conjunto para ter paz, desenvolvimento e prosperidade.
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás somente da China. O fluxo de comércio entre os dois países de janeiro a setembro deste ano, por exemplo, atingiu cerca de US$ 60 bilhões somando importações e exportações.
Levantamentos do governo brasileiro indicam ainda que:
a comunidade brasileira nos EUA é de cerca de 2 milhões de pessoas;
9,5 mil empresas brasileiras exportam para os EUA.
Diante desse cenário, a GloboNews ouviu especialistas em alguns temas sobre os possíveis impactos nas relações entre os dois países com a vitória de Trump.
Veja nesta reportagem (clique no link do tema para seguir ao conteúdo):
Meio ambiente
Migração
Comércio
Diplomacia
Miriam Leitão: Trump atenuou o tom em discurso
Meio ambiente
Porta-voz do Greenpeace Brasil, Mariana Mota afirma que Trump é um “negacionista” nas questões ambientais e climáticas e que isso pode impactar medidas discutidas em conjunto pelos dois países.
Para Mariana Mota, a avaliação é que Trump, na Casa Branca, tomará atitudes para “minar os esforços” na agenda ambiental em nível global.
E também promoverá setores que negam as mudanças climáticas, afastando os Estados Unidos de medidas como o financiamento do Fundo Amazônia e de ações da chamada transição energética.
“Um dos impactos que a gente imagina para o Brasil é que a promoção dessa indústria [de petróleo] vai dar sobrevida ao discurso em defesa desse modelo de desenvolvimento, baseado em combustíveis fósseis”, afirmou a porta-voz do Greenpeace.
Sob a presidência do Brasil, o G20 discute neste ano, entre outros pontos, a transição energética e o desenvolvimento sustentável.
O presidente Lula tem defendido que os líderes globais discutam formas de financiar ações de proteção do meio ambiente e combate às mudanças climáticas.
Nesse contexto, em 2025, o Brasil sediará a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA).
“O governo Biden ainda vai representar os Estados Unidos na COP 29, no Azerbaijão. Assim, os EUA e os outros países, como o Brasil, devem assinar compromissos fortes, que precisam entregar resultados sobre o financiamento climático coletivo”, completou Mariana Mota.
Migração
Imigrantes atravessam rio no México, mas guardas não permitem entrada nos EUA
Fernando Llano/AP
Ainda na campanha eleitoral, o então candidato Donald Trump prometeu, se eleito, deportar imigrantes ilegais.
Além disso, conforme o advogado Marcelo Godke, especialista em Direito Internacional com atuação no Direito Migratório, o presidente eleito deu sinais de que adotará política mais criteriosa na concessão de vistos a estrangeiros que querem entrar de forma legal no país.
“O que ele [Trump] deve endurecer, e muito, é a questão da migração ilegal. Vai tentar deportar pessoas. […] Na questão da imigração ilegal, o governo dele vai ser mais duro. O que ele pode promover é a migração que for benéfica para o país”, acrescentou.
Segundo Marcelo Godke, estudos indicam que os EUA precisam de profissionais em áreas como enfermagem, contabilidade e dentista, por exemplo, e que nessas áreas pode haver até uma “flexibilização” das regras para atrair profissionais.
Comércio
Presidente Lula se pronuncia após eleição de Trump
Na avaliação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarações dadas pelo então candidato Donald Trump na campanha causaram “apreensão” no Brasil e nos países emergentes. Mas, acrescenta, o discurso do agora presidente eleito é “mais moderado”.
“O cenário externo já vem sendo desafiador há alguns meses. Estamos dizendo isso desde o ano passado, quando estávamos negociando as medidas com o Congresso Nacional”, declarou o ministro.
Na avaliação do professor José Luís Oreiro, do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), a vitória do candidato do Partido Republicano pode representar um cenário “muito ruim” para o Brasil na área do comércio.
Isso porque Trump dá sinais de que deve aumentar o imposto de importação, afetando as exportações brasileiras de produtos manufaturados.
Os EUA são o principal destino das exportações brasileiras de produtos industrializados, segundo estudo divulgado em conjunto pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) e a Câmara Americana de Comércio (AmCham).
De 2001 a 2023, o montante exportado passou de cerca de US$ 15 bilhões para cerca de US$ 30 bilhões. O resultado deixa os EUA à frente, por exemplo, da União Europeia (US$ 23,5 bilhões) e do Mercosul (US$ 19,4 bilhões).
“Trump vai cumprir a promessa de campanha de aumentar em 25% o imposto de importação nos EUA. Lógico, o principal alvo é a China, mas não só a China, todos os países que comercializam com os EUA, principalmente europeus, mas também afeta nossas exportações”, disse o especialista.
Diplomacia
Trump fez diversas declarações em favor de bitcoins na campanha
Getty Images via BBC
Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), Amâncio Jorge diz que, do ponto de vista diplomático, a eleição de Trump pode impactar as relações entre os dois países.
Ele explica porém que, do ponto de vista das relações bilaterais como um todo, “nunca houve uma alteração significativa” com a alternância de poder entre democratas e republicanos.
“Tem alguns efeitos [para o Brasil] com a onda protecionista já anunciada pelo presidente eleito dos Estados Unidos, que deve impactar imediatamente o Brasil do ponto de vista da inserção global, até com certo desprestígio para o multilateralismo”, disse o professor.
Isso porque, segundo Jorge, o Brasil “nunca foi parceiro estratégico de primeira ordem” para os Estados Unidos porque não cria problemas relevantes para o país nem se mostra capaz de solucionar conflitos ao redor do mundo.
O professor chama atenção, ainda, para o “deslocamento” das prioridades americanas na região.
“Haverá prioridade para a Argentina, dado o corte ideológico [Trump comemorou a vitória de Javier Milei em 2023], com um relacionamento com prestígio maior para a Argentina”, enfatizou.
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