Guarujá

Ex-atleta paralímpica entra em coma induzido após infartos e luta pela sobrevivência no litoral de SP: 'Descaso'




Família afirma que Marleci Fernandes, de 67 anos, luta para sobreviver com obstruções de 95% das artérias coronárias [que fornecem sangue ao músculo cardíaco]. Idosa é ex-atleta paralímpica de bocha adaptada. Idosa de 67 anos treinava e competia em campeonatos de bocha adaptada
Arquivo pessoal
A ex-atleta paralímpica Marleci Fernandes, de 67 anos, foi entubada e colocada em coma induzido após sofrer um infarto em Santos, no litoral de São Paulo. De acordo com a família, ela convivia com as sequelas da poliomielite e, agora, luta para sobreviver com obstruções de 95% das artérias coronárias [que fornecem sangue ao músculo cardíaco].
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Segundo Isa Carla, nora da ex-atleta paralímpica de bocha adaptada, a sogra infartou pela primeira vez em junho deste ano, quando um exame apontou obstrução de 80% em duas artérias coronárias. Marleci recebeu tratamento por medicamentos mas sofreu o segundo infarto no dia 30 de outubro.
A obstrução das artérias coronárias da idosa subiu para 95% e, apesar da urgência do caso, a família dela ainda não conseguiu uma vaga em uma ala hospitalar especializada. A ex-atleta paralímpica foi internada e entubada no Complexo Hospitalar da Zona Noroeste.
“A impressão que nós, como familiares, temos é de que eles selecionam quem vão salvar. Isso dá muita revolta, além de tudo que a gente está passando com ela”, desabafou a nora.
Em nota, a Prefeitura de Santos (SP) informou que aguarda uma liberação de vaga na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por parte dos hospitais (veja o posicionamento completo adiante).
Infartos e obstruções
Segundo a nora de Marleci, o primeiro infarto sofrido pela idosa foi de menor gravidade. Na ocasião, ela foi internada no Complexo Hospitalar da Zona Noroeste por sete dias, sendo encaminhada em seguida à Santa Casa de Santos, onde passou pelo primeiro exame de cateterismo.
De acordo com Isa Carla, os médicos liberaram a idosa apesar do diagnóstico preocupante de obstrução nas artérias, pois uma cirurgia seria muito arriscada à época. A nora acrescentou que havia ainda a possibilidade de uma angioplastia [procedimento com cateter que busca desobstruir as artérias coronárias], mas a equipe alegou que a anatomia do coração da paciente dificultava o acesso.
“A gente falou com mais de 10, mais de 15 médicos desde que ela entrou na UPA até quando ela teve alta na Santa Casa. E todo mundo falou que era o tratamento clínico que ela deveria realizar em casa […]. Eles [médicos] proibiram ela de fazer qualquer esforço físico porque tinha que recuperar o coração”, contou a nora.
A família relatou que, desde então, Marleci teve que se afastar dos esportes. A idosa já representou a cidade de Santos em diversas competições regionais e nacionais.
Para a surpresa de todos, mesmo com a medicação, no dia 30 de outubro, Marleci passou mal novamente devido a um novo infarto. Uma ambulância levou a idosa para a UPA Zona Noroeste e, no dia 2, ela foi transferida para a UTI do Hospital da Zona Noroeste.
“Ela foi ficando branca, em seguida foi ficando roxa e, aí, começou a vomitar. Foi horrível”, contou a nora.
Esperança
Marleci com o treinador (à esq.) e o filho Antero (à dir.)
Arquivo pessoal
No dia 4 de novembro, Marleci foi submetida a um novo cateterismo na Santa Casa de Santos. De acordo com a família, o exame apontou a obstrução de 95% em duas artérias coronárias da idosa.
Já no dia seguinte, os familiares receberam uma ligação informando que uma vaga estava disponível na Santa Casa, mas chegando lá constataram que se tratava de um espaço na enfermaria. A revolta tomou conta dos parentes, já que a situação de Marleci havia evoluído negativamente.
“A gente ficou quase uma hora no corredor, um monte de gente passando, um monte de maca passando. Uma situação extremamente constrangedora. Desceu assistente social, desceu administração da Santa Casa, todo mundo para querer dizer que não tinha vaga na UTI para ela”, lamentou Isa.
‘Descaso’
Marleci continuou internada no Complexo Hospitalar da Zona Noroeste. Isa relatou que, entre os dias 6 e 7 deste mês, a sogra sofreu outros três infartos, sendo “um atrás do outro”. Ela foi entubada na sequência.
“A gente, agora, não sabe o que vai acontecer. A gente está muito exausto de ficar lutando, de ficar batendo boca, ficar indo para cima e para baixo. Parece que eles já sentenciaram ela desde que ela foi internada”, disse a nora.
O desejo de Isa e do marido, Antero, é que Marleci seja acolhida em um hospital de referência. “Que trate o caso dela como um caso específico, porque ela é uma pessoa deficiente física. Ela tem, realmente, algumas anormalidades na anatomia do ponto de vista dos médicos […]. Não é possível que nenhum se disponha a estudar o caso dela”, finalizou.
Prefeitura e Santa Casa
Por meio de nota, a Secretaria de Saúde de Santos informou que a paciente se encontra assistida no Complexo Hospitalar da Zona Noroeste.
De acordo com a pasta, foi solicitada UTI com suporte cardiológico para a paciente nos hospitais prestadores de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) municipal e estadual.
O g1 entrou em contato com a Santa Casa de Santos para mais informações sobre o caso de Marleci, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Prevenção
Doença coronariana: obstrução arterial pode levar ao infarto e consequente declínio cognitivo
By Patrick J. Lynch, medical illustrator – Patrick J. Lynch, medical illustrator, CC BY 2.5, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1485885
Segundo o médico cardiologista Philipe Saccab, o paciente com diabetes ou hipertensão arterial tem maiores chances de desenvolver a aterosclerose [condição caracterizada pelo depósito de gordura na parede dos vasos do coração].
De acordo com ele, pacientes que apresentam lesões obstrutivas em 70% ou maior porcentagem já são indicados para a angioplastia visando à desobstrução. Quanto maior a lesão obstrutiva, mais as hemácias demoram a passar pela artéria e, consequentemente, o oxigênio é transportado com maior dificuldade para o corpo, segundo o médico.
“É uma doença progressiva que tem controle, mas não tem cura. Ou seja, não regride”, afirmou o especialista.
Ainda segundo Saccab, o tratamento para a desobstrução das artérias inclui uso de medicamento, colocação de tubos chamados “stents” e/ou cirurgias, como a conhecida “ponte de safena”. No procedimento, é utilizado um segmento de uma veia para criar uma nova rota de sangue.
Prevenção ao infarto:
Ingerir comida com pouco sal;
Controlar o diabetes;
Manter o peso corporal;
Fazer atividade física;
Não fumar.
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