Eva Furnari: Foi muito difícil largar a ilustração – 15/02/2025 – Era Outra Vez

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“A palavra não serve para substituir a imagem. Ela é péssima para isso”, diz Eva Furnari. “Tive que reaprender a escrever. Fazer um livro juvenil é como trocar de profissão.”
Aos 76 anos e consolidada como um dos principais nomes da literatura infantojuvenil brasileira, a escritora e ilustradora está com o frio na barriga das estreias. Autora de quase 70 obras para crianças, entre eles “Felpo Filva”, “Cocô de Passarinho”, “A Bruxa Zelda e os 80 Docinhos” e muitos outros, Furnari resolveu mudar de ares. Neste domingo, dia 16, ela lança em São Paulo o seu primeiro romance para adolescentes: “Rozaspina”, que também é o seu primeiro livro sem ilustrações.
“Foi muito difícil abandonar a imagem. A minha criação é sempre visual”, conta. Não que as 360 páginas do volume estejam sem nenhum desenho —Furnari ilustrou a capa e colocou quatro mapas e uns pares de botas no miolo. Mas só. “É muito diferente do livro infantil. Numa história mais longa, você precisa pensar no arco narrativo, estruturar profundamente os personagens. Sem as imagens, são as palavras que geram os sentimentos. Fui aprendendo na marra, meio autodidata.”
“Rozaspina” sai pela editora Moderna e conta a história da menina Lalin, que descobre ter poderes mágicos ligados ao bordado, incluindo o dom de dar vida a bichos que ela costura. Vivendo numa ilha isolada com a avó, a garota acaba se envolvendo numa trama detetivesca que envolve um vilão poderoso, o sumiço de sua mãe e uma espécie de escola de magia, a tal Rozaspina do título, um lugar cheio de bruxos costureiros. Para tentar deter o feiticeiro maligno, ela se une aos amigos Luc e Mirko, que também descobrem seus poderes mágicos ligados às linhas e agulhas.
Soou familiar? Furnari abraça na obra uma estrutura narrativa clássica, que pode ser vista em diversos livros de fantasia. É como se “Rozaspina” fosse uma espécie de “Harry Potter” cheio de bordados e crochês. Os elementos são os mesmos que estruturam o best-seller de J. K. Rowling e outros clássicos de autores fundamentais da literatura fantástica, como C. S. Lewis e J. R. R. Tolkien. Estão lá a protagonista que desconhece o seu passado, o chamado para a aventura, as revelações inesperadas, os objetos mágicos, os ajudantes do herói, a morte simbólica que funciona como rito de passagem.
A autora diz que não se apegou a essas fórmulas —ou não de forma consciente. “Você pode até montar uma narrativa lógica que funcione. Milhões de manuais ensinam a fazer isso, a enganchar o leitor. Mas as histórias precisam de mais. Precisam ter alma”, afirma. “Eu não sou uma pessoa estudiosa. É a intuição que me guia. É como uma vara de pescar, a gente não sabe de onde vem a imaginação.”
Mas é possível rastrear alguns caminhos percorridos por esse anzol. “Rosaspina”, por exemplo, é o nome em italiano do “A Bela Adormecida” dos irmãos Grimm —conto de fadas em que bruxas e costuras são muito importantes, afinal a princesa só cai em sono profundo depois de ser amaldiçoada pela vilã e picar o dedo num tear.
Furnari conta que começou a rascunhar o romance há mais de 20 anos, em 2003, com anotações e desenhos feitos em diversos cadernos. Inicialmente, porém, a intenção era produzir um livro infantil ilustrado. Só que a trama foi ficando cada vez mais complexa, os croquis dos personagens se avolumaram, os cadernos se multiplicaram com esboços e até uma maquete com o cenário foi produzida. Aos poucos, virou uma aventura para adolescentes.
“Os cadernos têm 500 mil coisas. São um caldeirão. Foram tantas ideias que, no começo, o plano era publicar três volumes. No fim, reduzimos para um só.”
Não que Furnari precisasse de toda essa pesquisa para desbravar o universo da magia. A bruxa é uma figura recorrente nos livros da autora desde o começo da carreira. Sua primeira personagem de sucesso foi exatamente a Bruxinha, que nasceu neste jornal, na Folhinha, em 1982. Depois, vieram incontáveis livros com feiticeiras —entre eles, “Sorumbática”, “Trudi e Kiki”, “Truks”, além do já citado “A Bruxa Zelda e os 80 Docinhos”, por exemplo.
Mas há uma diferença. Nos infantis, a bruxa é geralmente meio atrapalhada, quase maluquinha, às vezes nonsense, com um ar boa-praça e sempre carismática. Isso causa uma rachadura na aura de terror que costuma vir a tiracolo com essas personagens, o que acaba produzindo um sorrisinho de surpresa ou uma gargalhada de quebra de expectativa no leitor. “Rozaspina”, porém, vai por outro caminho.
Embora Lalin também seja um poço de carisma, a protagonista do romance não transita pelo humor. Sua vida é mais trágica. Suas questões, mais filosóficas. Os desafios estão intimamente ligados à autodescoberta, ao encontro com o primeiro amor, à dura transição da infância para a vida adulta. É outro registro, outro tipo de bruxa. São novos feitiços.
Isso quer dizer que Eva Furnari é agora uma escritora para adolescentes e que as bruxinhas amalucadas ficaram para trás?
“Não vou fazer a continuação da história da Lalin. Não é o plano. Mas sobrou tanto material, tanto, mas tanto, que estou preparando um novo infantil dentro desse universo. Não posso dar detalhes, mas tenho arquivos e arquivos de magias”, diz. “Volto para os infantis muito diferente.”
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